Última alteração: 2018-10-10
Resumo
A produção brasileira estimada de cana-de-açúcar na safra 2018/19 é de 635,5 milhões de toneladas, com área colhida de 8,6 milhões de hectares e produtividade média de 73,8 t ha-1. A canavicultura tem se expandido para regiões não tradicionais de cultivo (Centro-Sul e Centro-Oeste), caracterizadas por apresentarem solos de baixa fertilidade, elevada acidez e alta toxidez por alumínio (Al). A influência da toxidez por Al no desenvolvimento do sistema radicular e na interferência da absorção de nutrientes tem sido apresentada como uma das principais causas da baixa produtividade de muitos solos. Os objetivos deste estudo foram: avaliar o desenvolvimento radicular das variedades RB855156, SP81-3250 e RB935744 de cana-de-açúcar em solução nutritiva, com diferentes condições de estresse por Al; examinar alterações morfológicas em ápices radiculares da cana-de-açúcar por microscopia óptica; verificar a penetração do Al no tecido radicular com o uso de corantes complexantes de Al; testar a eficiência dos corantes hematoxilina e violeta de pirocatecol como indicadores da presença de Al no tecido radicular. O experimento foi conduzido em condições de laboratório, em delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições. Minirrebolos de cana-de-açúcar com gema única foram pré-germinados em vermiculita e transferidos para tanques de 25 L contendo solução nutritiva completa (adaptação da clássica solução de Hoagland & Arnon). O sistema foi mantido sob arejamento contínuo da solução e sob iluminação fluorescente artificial permanente de 5000 lux. Em seis dias, as raízes alcançaram vigor, comprimento e uniformidade adequados para imersão em solução nutritiva adicionada de concentrações crescentes de Al (0, 70, 130, 380, 800 e 1400 µmol L-¹) e mantida a pH 4,0, ocasião em tiveram seu comprimento inicial registrado. Após seis dias de exposição ao Al, o comprimento radicular final foi medido. Os resultados de taxa de alongamento radicular (TAR, mm dia-1) foram submetidos à análise de variância e comparados pelo teste de Tukey (p<0,05). Parâmetros morfológicos do Al nos tecidos radiculares, indicados pela coloração, foram explorados por registro fotográfico das observações ao microscópio óptico. O aumento da concentração de Al em solução causou diminuição da taxa de alongamento radicular. A concentração crítica de Al em solução, e que iniciou os processos de deterioração do ápice radicular, foi de 380 mmol Al L-1, com TAR de 5,09 mm dia-1. A TAR na ausência do Al foi de 5,88 mm dia-1, diminuindo para 1,74 mm dia-1 na dose 1400 µmol L-¹. As principais anomalias morfológicas das raízes foram o engrossamento e escurecimento e o aspecto retorcido, deformado e quebradiço, além da rizodeposição de calose seguida do colapso e deformação da coifa. O corante hematoxilina foi mais eficiente do que o violeta de pirocatecol para indicar o acúmulo e localização de Al no tecido radicular. A coloração das raízes tornou-se mais intensa nas plântulas crescidas nas doses de 800 e 1400 µM L-1 e indicou acúmulo de Al no apoplasto do córtex radicular. A sequência de tolerância das variedades de cana-de açúcar ao Al em solução foi RB935744 (tardia)>SP81-3250 (médio)> RB855156 (precoce).
Palavras-chave
Referências
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