Portal de Eventos CoPICT - UFSCar, [UFSCar Araras] XXV CIC e X CIDTI - 2018

Tamanho da fonte: 
Sistema radicular de cana-de-açúcar cultivada em solo com alta saturação por alumínio e submetido à aplicação de vinhaça
Jéssica Aparecida Lara Lavorenti, Marcio Roberto Soares

Última alteração: 2018-10-08

Resumo


No Brasil, a área de cana-de-açúcar colhida na safra 2017/18 foi de 8,7 milhões ha, com produção de 633 milhões t. A maior expansão da canavicultura ocorrerá no Centro-Sul e no Centro-Oeste brasileiro, sobre solos com alta acidez, altos teores de alumínio (Al) e baixos teores de nutrientes. A vinhaça é rotineiramente aplicada nos canaviais, mas seus efeitos na atenuação da fitotoxicidade por Al e no desenvolvimento das raízes são inconclusivos. Objetivou-se avaliar o desenvolvimento radicular de variedades de cana-de-açúcar (RB855453 e RB867515) cultivadas em Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico (LVAd) com altos teores de Al e submetido à aplicação de vinhaça. O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação, em delineamento experimental inteiramente casualizado, com esquema fatorial 2 (variedades) x 2 (com e sem vinhaça) e três repetições. Amostras da camada 0-20 cm do LVAd foram incubadas com calcário para elevação da saturação por bases (V%) a 60% e diminuição da saturação por Al (m%) a 0,7%. Parte das amostras coletadas de 40-80 cm foi incubada com calcário para diferentes níveis de V% (45 e 35%) e de m% (8 e 40%) e parte foi mantida com o V% (20%) e m% (63%) naturais. As amostras foram utilizadas para o preenchimento de colunas de PVC, compostas por quatro anéis de 20 cm de diâmetro e 20 cm de altura, para construir um gradiente decrescente de V% (e crescente de m%) de cima para baixo. Das seis colunas construídas para cada variedade, três receberam vinhaça. Seis colunas adicionais (controle) foram completamente preenchidas com amostras da camada 0-20 cm, corrigidas para V=60%, sendo três com vinhaça. Minirrebolos de cana-de-açúcar foram pré-germinados em substrato comercial Multiplant® e transplantados nas colunas. As adubações de plantio e de cobertura foram calculadas para produtividade de 100-150 t ha-1. A quantidade de vinhaça calculada conforme a norma CETESB P4.231 foi de 170 m3 ha-1, o que resultou na aplicação de 0,5 L de vinhaça por coluna, aos 30 dias após o transplantio (DAT). Aos 120 DAT, foi analisada a massa seca da raiz (MSR), a cada 20 cm. Os resultados foram submetidos à análise de variância e, quando significativos pelo teste F (p<0,05), as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05). Com exposição ao gradiente de m% (simulação mais apropriada da condição do campo) e à vinhaça, a RB855453 concentrou aproximadamente 60% da MSR nos primeiros 20 cm da coluna. O crescimento radicular diminuiu gradativamente com a profundidade e drasticamente a partir de 40 cm, com apenas 7,7% da MSR aos 60-80 cm. A adição da vinhaça aumentou 20% o desenvolvimento das raízes da RB855453 até 40 cm (82% MSR). A variedade RB867515 foi mais tolerante à alta m%. Aproximadamente 40% da MSR estavam na camada 0-20 cm, a partir da qual houve distribuição homogênea, alcançando 21,1% aos 60-80 cm. O enraizamento da RB867515 não foi alterado sem a vinhaça. Nas colunas com solo corrigido até os 80 cm e sem vinhaça, a RB855453 ampliou a MSR aos 60-80 cm (38,7%) e a RB867515 manteve a distribuição das raízes.

Palavras-chave


Saccharum spp; ambiente de produção; fitotoxidez por Al; sistema radicular

Referências


ABREU JR., C.H. et al. Relationship between acidity and chemical properties of Brazilian soils. Scientia Agricola, v.60, n.2, p.337-343, 2003.

AQUINO, G.S. et al. Sistema radicular e produtividade de soqueiras de cana‑de‑açúcar sob diferentes quantidades de palhada. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.50, n.12, p.1150-1159, 2015.

BALL-COELHO, B. et. al. Root dynamic in plant ratoon crops of sugar cane. Plant and Soil, v.142, p.297-305, 1992.

BARROS, R. P. et al. Alterações em atributos químicos de solo cultivado com cana-de-açúcar e adição de vinhaça. Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia, v. 40, n. 3, p. 341-346, 2010.

CARNEIRO, C. E. A. et al. Alterações químicas no solo induzidas pela aplicação superficial de palha de cana-de-açúcar, calcário e vinhaça. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 25, n. 4, p. 265-272, 2004.

CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Norma Técnica P 4.231. Vinhaça: critérios e procedimentos para aplicação no solo agrícola. São Paulo: CETESB, 2006. 12p.

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira de cana-de-açúcar | v.5 – Safra 2018/19, n.2 - segundo levantamento, 2018. 76p.

COSTA, M.C.G. et al. Distribuição radicular, estado nutricional e produção de colmos e de açúcar em soqueiras de dois cultivares de cana-de-açúcar em solos distintos. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.31, p.1503-1514, 2007.

CURY, T.N. et al. Biomassa radicular da cultura de cana-de-açúcar em sistema convencional e plantio direto com e sem calcário. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.38, n.6, p.1929-1938, 2014.

DALCHIAVON, F.C. et al. Relações da produtividade de cana-de-açúcar com atributos químicos de um Argissolo. Revista de Ciências Agrárias, v.40, p.60-69, 2017.

ECCO, M. et al. Respostas biométricas em plantas jovens de cana-deaçúcar submetidas ao estresse hídrico e ao alumínio. Comunicata Scientiae, v.5, n.1, p.59-67, 2014.

OLIVEIRA, M. S. de. Tolerância de variedades de cana-de-açúcar (Saccharum spp.) à toxidez por alumínio em solução. Araras, 2012. 112f. Dissertação (Mestrado em Agricultura e Ambiente) - Universidade Federal de São Carlos.

RAIJ, B. VAN. et al. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2. ed. Campinas, Instituto Agronômico/Fundação IAC, 285p.,1996. (Boletim Técnico, 100).

ROSSIELLO, R.O.P.; JACOB NETTO, J. Toxicidez de alumínio em plantas: novos enfoques para um velho problema. In: Fernandes, M.S. (Ed.). Nutrição Mineral de Plantas. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2006. p.375-418.

SILVA, A. J. N. et. al. Growth and function of the sugarcane root system. Field Crops Research, v.92, p.169–183, 2005.

SILVA-OLAYA, A.M. et al. Comparação de métodos de amostragem para avaliação do sistema radicular da cana-de-açúcar. Revista de Ciencias Agrícolas, v.34, p.7-16, 2017.

SOBRAL, A. F. de; GUIMARÃES, V. O. da S. Relação entre a toxidez do alumínio e a produção de cana-de-açúcar (Saccharum spp). Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.27, n.2, p.287-292, 1992.

VASCONCELOS, A.C.M. et al. Avaliação do sistema radicular da cana-de-açúcar por diferentes métodos. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.27, p.849-858, 2003.

VASCONCELOS, A.C.M.; GARCIA, J.C. Desenvolvimento radicular da cana-de-açúcar. Encarte Informações Agronômicas Potafos, n.110, p.1-5, 2005.