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Tons do negro nas moradias urbanas periféricas: reflexos do racismo à brasileira na situação de precariedade residencial e na negação do direito à cidade no bairro Lopes de Oliveira, Sorocaba (SP).
LOURDES DE FATIMA BEZERRA CARRIL, Dahra Almudi Araújo

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


Situado na seara da Geografia Urbana, o presente estudo ancora-se sobre base conceitual urbana e étnico-racial, valendo-se dos conceitos de segregação socioespacial, precariedade de moradia e direito à cidade, além dos de racismo de marca/cor, pigmentocracia, colorismo e racismo estrutural. Buscar refletir que a realidade urbana no Brasil está longe de ser tarefa fácil. O espaço urbano brasileiro abarca um mosaico cujas peças são diversas; culturais, antropológicas, econômicas, sociais, étnico-raciais, históricas, simbólicas, geográfico-ambientais, entre outras inúmeras dimensões de apreensão da realidade. Esta miscelânea de conteúdos imprime diferentes formas nem sempre esclarecidas que edificam o espaço urbano e passam a expressar dinâmicas de uso e ocupação plurais, criando não apenas uma base física e material que constitui a cidade, mas também sua dinâmica qualitativa em que desigualdades e exclusões são pautadas pela cor dos indivíduos. Estas, entendemos ser fundantes do capitalismo brasileiro que se desenvolve desde a abolição e do modelo de nação que foi pensado. O objetivo deste trabalho foi compreender como se materializam os impactos socioespaciais do racismo à brasileira sobre as moradias de residentes do Jd. Lopes de Oliveira, periferia no município de Sorocaba (SP).  Pautados, sobretudo, em características fenotípicas, que são próprias às marcações étnicas e raciais brasileiras, utilizou-se metodologia de aplicação de questionários, levantamento estatístico, tabulação de dados e técnicas de geoprocessamento, associadas ao método materialismo-histórico dialético. Comparando-se as porcentagens quanto à maior precariedade habitacional, levantadas a partir de autodeclaração racial, foram encontradas habitações mais precárias em residentes autodeclarados pretos sobre as de autodeclarados pardos. Nesse sentido, considera-se que os pretos são amplamente afetados por problemáticas como baixa ventilação/circulação de ar na moradia, adensamento excessivo, desconforto térmico, irregularidade do terreno e vulnerabilidades/carências em escolaridade e ocupação profissional. Analisando essas distinções a partir da hierarquia construída entre negros de diferentes tonalidades de pele, no país, o estudo aponta para a complexidade do racismo à brasileira quando se investiga a construção da segregação socioespacial urbana. Os impactos da precariedade habitacional implicam, assim, na negação ao direito à moradia e ao direito à cidade.


Palavras-chave


Precariedade Habitacional. Segregação Socioespacial. Racismo à Brasileira

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