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TIMIDEZ E BULLYING NO COTIDIANO ACADÊMICO DE UM CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
Douglas Aparecido de Campos, Francisco Fabiano Neves

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


Introdução

 

A Universidade é rica em trocas de conhecimentos, não só acadêmicos, mas também de outros saberes presentes na diversidade e no cotidiano universitário. Assim, o bullying e a timidez poderiam ser fenômenos que dificultariam essas interações sociais.

 

Objetivo

 

Analisar, identificar e discutir as influências da timidez e do bullying na vida acadêmica dos graduandos e a relação entre a timidez e o bullying no curso de Licenciatura em Pedagogia.

 

Metodologia

 

Foram utilizadas as metodologias qualitativa e quantitativa. Utilizamos questionários, observações, diários de campo e entrevistas. Após a aprovação do Comitê de Ética da Plataforma Brasil, os questionários, respondidos por vinte e seis discentes, foram aplicados para a seleção dos participantes da pesquisa com traços de timidez e que possivelmente poderiam ter sofrido bullying na Universidade. Cinco estudantes foram selecionados e entrevistados com o intuito de colher relatos e histórias orais.

 

Resultados

 

81% dos discentes responderam que preferem não falar nas aulas, mas fazem um esforço e falam; 58% tiram dúvidas somente com seus colegas; 38% preferem não ir às atividades e eventos promovidos pela Universidade. Esses dados revelam que os discentes estão desenvolvendo estratégias de evitação e isolamento (FELIX, 2013), possivelmente as estratégias desenvolvidas por pessoas tímidas.

81% dos alunos e alunas já se sentiram intimidados na Universidade. A intimidação é uma das formas violentas empregadas pelos autores de bullying (FANTE; PEDRA, 2008). Com a afirmação de que 54% dos acadêmicos já presenciaram comentários maldosos em sala de aula, foi demonstrado que a intimidação realmente ocorre por meios sutis (FANTE; PEDRA, 2008).

Nas entrevistas, houveram relatos de privação da presença em aulas, eventos, tirar dúvidas ou comentar em sala de aula. Os participantes da pesquisa perceberam comentários maldosos, olhares, risadas e gestos (FANTE, 2005) que fizeram com que eles deixassem de se expressar ou de estarem presentes nos espaços da Universidade. Situações de exclusão e intimidação (FANTE; PEDRA, 2008), (FANTE, 2005), (CECCARELLI; PATRÍCIO, 2013), (COSTA, 2016), (LOPES NETO, 2007), foram relatadas e demonstram que o bullying está acontecendo tanto dentro, como fora da sala de aula. Para que essas ações se mantenham, o medo é utilizado como instrumento de controle e poder (FELIX; FILHO, 2016).

Um dos participantes de pesquisa relatou ter desenvolvido a agressão como forma de defesa, sendo que pudemos verificar que o agredido se tornou o agressor (FREIRE, 1987), dentre as outras vítimas, duas disseram que não sabiam que necessitavam de ajuda (CECCARELLI; PATRÍCIO, 2013), o que é grave, pois sem buscar ajuda o ciclo perverso do bullying não se encerra.

 

Conclusões

 

Constatamos que os discentes com traços de timidez estão relacionados aos casos de bullying, pois o isolamento e a evitação faz com que sejam alvos das violências, com maior incidência em casos de intimidação, além dos comentários maldosos, olhares, risadas, gestos intimidadores e exclusão social. Foram desenvolvidos mecanismos de defesa, como privação e, em casos mais graves, medo, que se mostrou muito constante nos relatos colhidos. As vítimas do bullying desenvolveram danos em virtude das violências sofridas, como ansiedade, crise do pânico e privação.

 


Palavras-chave


Timidez; Bullying; Permanência

Referências


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