Portal de Eventos CoPICT - UFSCar, XXVII CIC e XII CIDTI

Tamanho da fonte: 
Avaliação da qualidade de vida e da presença e gravidade da fadiga crônica em pacientes portadores de hepatite C antes e após o tratamento antiviral com novos fármacos de ação direta
João Lucas Dourado do Val, Silvana Gama Florencio Chachá

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


Introdução: A fadiga crônica tem sido relatada por pacientes portadores da hepatite C crônica em diversos estudos porém é negligenciada na prática clínica.

Objetivos: Avaliar a gravidade da fadiga crônica, a qualidade de vida e a capacidade funcional de indivíduos cronicamente infectados pelo vírus da hepatite C (HCV) antes e após o tratamento antiviral para hepatite C.

Métodos: Este estudo foi programado para ser desenvolvido na forma transversal cross-over. Foi feita avaliação de: qualidade de vida (FS-36); fadiga crônica (Escala de Gravidade da Fadiga – FSS); depressão (Inventário de Depressão de Beck - IDB); capacidade funcional por meio dos testes Timed-up and Go; Teste de Sentar e Levantar; Teste de Caminhada de Seis Minutos. Foram feitas análises descritivas. Foi realizada análise de correlação por meio do coeficiente de Pearson, com significância estatística estabelecida em 5%.

Resultados: Entre agosto de 2019 e março de 2020, foram convocados 47 pacientes, sendo que 25 concordaram em participar. Dos 25 pacientes avaliados, quatro não realizaram testes físicos.

Quanto à avaliação da qualidade de vida (FS36) verificou-se que a dimensão “Aspectos Emocionais” foi a mais prejudicada (45,33 ± 40,69), sendo a “Capacidade Funcional”, a menos prejudicada (72 ± 27,23). Doze indivíduos (48%) apresentaram escore FSS compatível com a presença de fadiga crônica, sendo a média de pontuação 27,48 ± 15,94. A média do escore IDB foi 16,96 ± 11,17, dezesseis pacientes (64%) tiveram ao menos grau leve de depressão (>14 pontos) ou superior. Quanto aos testes funcionais: a média do Timed-up and Go foi de 11,52 ± 3,21, sendo que 11 pacientes (52%) fizeram o teste em menos de 10 segundos (sem deficiência de mobilidade), enquanto 10 (48%) estiveram na faixa entre 11 a 20 (déficit leve de mobilidade). No Teste de Sentar e Levantar a média ficou em 6,76 ± 2,58, e para a Caminhada de Seis Minutos a média foi de 420,3 metros ± 75,83, havendo redução da capacidade funcional em grau leve (esperado: 577,6 ± 25,88).

Houve forte correlação entre a presença de fadiga e pior desempenho no componente emocional do FS36 (r = -0,74387507 e p <0,001). A presença de depressão correlacionou-se a pior desempenho nos Aspectos Sociais do FS36 (r = -0,733830032 e p<0,001). O Timed-up and Go correlacionou-se fortemente ao componente Capacidade Funcional da análise do FS36, bem como com a prova de Sentar e Levantar.

Conclusão: Devido ao cenário da pandemia da COVID-19, não houve condições para a realização das análises pós-tratamento. Os dados apresentados referem-se apenas aos testes pré-tratamento. Foi possível concluir que, na amostra estudada, houve alta prevalência de fadiga crônica e de sintomas depressivos, com deterioração da qualidade de vida, particularmente nos aspectos sociais e emocionais. A capacidade funcional manteve-se preservada. Há que se destacar as limitações do trabalho: trata-se de amostra pequena, para a qual não foi realizada análise de fatores econômicos.


Palavras-chave


Fadiga crônica; Hepatite C, Qualidade de vida

Referências


  • Negro, F. et al. Extrahepatic Morbidity and Mortality of Chronic Hepatitis C. Gastroenterology, [S.L], v. 149, n. 6, p. 1345-1360, nov. 2015.
  • Gomes, Luciana Dos Reis. Validação da versão portuguesa da Escala de Impacto da Fadiga Modificada e da Escala de Severidade da Fadiga na Esclerose Múltipla. Dissertação de Mestrado: Universidade do Minho, [S.L], out. 2011.
  • Rosa, K. et al. Validation of the Fatigue Severity Scale in chronic hepatitis C Gandek B, Sinclair SJ, Kosinski M, Ware JE Jr. Psychometric evaluation of the SF-36 health survey in Medicare managed care. Health Care Financ Rev. 2004;25(4):5-25.
  • Viccaro, Laura J.; Perera, Subashan; Studenski, Stephanie A.. Is timed up and go better than gait speed in predicting health, function, and falls in older adults?. Journal of the american geriatrics society, [S.L], v. 59, n. 5, p. 887-892, mai. 2011.
  • Society, American Thoracic. Ats statement: guidelines for the six-minute walk test, março 2002. Disponivel em:<https://www.thoracic.org/statements/resources/pfet/sixminute.pdf>. Acesso em: 10 de dezembro de 2018.
  • Rikli R.; Jones, J.; Development and validation of a function fitness test for community-residing older adults. Journal of Aging and Physical Activity, [S.L], v.7: p. 129-161, 1999.
  • Boscarino JA, Lu M, Moorman AC, Gordon SC, Rupp LB, Spradling PR, et al. Predictors of poor mental and physical health status among patients with chronic hepatitis C infection: the Chronic Hepatitis Cohort Study (CHeCS). Hepatology, 61(3):802–811, 2015.
  • Golden J, O’Dwyer AM, Conroy RM. Depression and anxiety in patients with hepatitis C: prevalence, detection rates and risk factors. Gen Hosp Psychiatry, 27(6):431–438, 2005.
  • Friedberg F, Tintle N, Clark J, Bromet EJ. Prolonged fatigue in Ukraine and the United States: prevalence and risk factors. Fatigue, 3(1):33–46, 2015.
  • Poynard T, Cacoub P, Ratziu V, Myers RP, Dezailles MH, Mercadier A, et al. Multivirc g. Fatigue in patients with chronic hepatitis C. J Viral Hepat, 9(4):295–303, 2002.