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ANÁLISE DE VARIABILIDADE CARDÍACA COMO FERRAMENTA PARA AVALIAÇÃO DO BEM ESTAR FISIOLÓGICO EM RÉPTEIS
Cleo Alcantara Costa Leite, Heloisa Bertolli Almeida

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


Introdução: Por motivos éticos e instrumentais, as pesquisas sobre o bem-estar de animais cativos têm alcançado grande relevância nos últimos anos. O bem-estar é apreciado através das “cinco liberdades” e atestado por programas rigorosos e expertise institucional. Tal definição coleciona dissensos e há falta de ferramentas objetivas para atestá-lo. Atualmente, as metodologias são majoritariamente focadas e descritas para mamíferos e são fundamentadas em condições físicas e/ou comportamentais, constatadas por pessoas treinadas. No caso dos répteis, apontados como de "comportamento simples", o estabelecimento do bem-estar através de características comportamentais é inconsistente. Além da complexidade espécie-específica, o bem-estar precisa representar a qualidade de vida do animal independente de uma perspectiva humana. Alternativamente, a análise de aspectos funcionais e regulatórios característicos da fisiologia de uma espécie, se tornam ferramentas de avaliação eficientes e dissociadas de interpretações pessoais. Nesse cenário, o pleno funcionamento do Sistema Nervoso Autônomo, que pode ser aferido pela análise de variabilidade cardíaca (Heart Rate Variability - HRV), tem grande potencial para atestar integridade funcional e regulatória de um espécime, configurando uma medida quantitativa, objetiva, não invasiva, a curto prazo. Animais vertebrados saudáveis em repouso apresentam diversas influências autonômicas durante intervalos de batimentos cardíacos (RRi), o que modula rápidas e constantes alteração no intervalo entre batimentos. Animais ativos, em estado de alerta ou estressados, por sua vez, apresentam RRi menos variável. Assim, a partir da descrição de HRV para uma espécie, o padrão pode ser analisado e utilizado para avaliar o reestabelecimento do repouso depois de uma perturbação. Objetivo: Nosso objetivo foi verificar se o padrão de HRV se correlacionaria com eventuais perturbações à homeostase, e se essa correlação também se aplicaria ao grau de invasividade da perturbação. Avaliaríamos então, a efetividade da análise como ferramenta para avaliação do bem-estar fisiológico. Metodologia: Depois de estabelecer valores padrões para HRV em repouso, seis lagartos teiús (Salvator merianae) foram submetidos a uma série de procedimentos usados em laboratórios de biologia, intercalados com períodos de recuperação: (1) contenção e inspeção; (2) injeção intraperitoneal de salina; (3) injeção intraperitoneal de antibiótico e anti-inflamatório; (4) sedação pré-anestésica de CO2; (5) sedação seguida de plano anestésico com isoflurano por 30 minutos; (6) sedação seguida de plano anestésico por 2 horas. Resultados: Depois de cada perturbação, a variabilidade total (Power Spectral Density, análise no domínio da frequência) foi reduzida e então recuperada, validando a resposta autonômica esperada depois de cada perturbação. O tempo para recuperação e a análise espectral (Spectral Analysis, no domínio da frequência) foram correlacionadas com o grau de invasividade. Conclusão: Considerando os resultados, sugerimos a HRV como uma ferramenta interessante para complementar a qualidade das avaliações do estado e bem-estar animal fisiológico.


Palavras-chave


fisiologia, HRV, bem-estar, repteis

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