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Uma cidade bitorcedora: etnografia da formação de comunidades torcedoras no futebol profissional em São Carlos
Thales Zolli Gaberz, Luiz Henrique Toledo

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


Buscamos observar a formação de comunidades torcedoras sob o contexto de cidades médias. Encontramos na cidade de São Carlos um bom caso para se analisar como ocorrem as afiliações clubísticas na cidade. Diante de seu contexto, a relação da cidade com o futebol profissional pode ser considerada inconsistente, contando com muitas indas e vindas ao futebol profissional, porém sem de fato conseguir se consolidar na prática do esporte.

Pretendemos observar e analisar o imaginário local referente ao futebol, considerando principalmente as identificações com os clubes da cidade, em atividade ou não. Buscamos analisar e categorizar as características identitárias referentes aos clubes locais; observar e identificar o imaginário torcedor da população e dos torcedores; observar a dinâmica competitiva e sociabilidade torcedora entre os cidadãos, os torcedores do mesmo time, e torcedores “rivais”; e compreender a importância desses clubes para a cidade e sua população.

Para analisar a sociabilidade entre os torcedores de futebol dentro de uma cidade bitorcedora, onde os clubes são ainda dependentes da imagem da cidade, nossa pesquisa a princípio tomaria como base o trabalho de campo, como principal forma de observação e análise dos critérios de partilha de emoções da população entre os clubes. Com a emergência do COVID-19 e todos seus reflexos, foram feitas diversas mudanças metodológicas e de abordagens, de forma que possibilitasse o prosseguimento da pesquisa sem maiores prejuízos.

Se tratando de redes de sociabilidade torcedora no geral - muitos anônimos, muitos de difícil contato -, optei por não dar prosseguimento através de entrevistas online. Uma vez que tomamos a sociabilidade como método, devido suas respostas, espontâneas e jocosas, que correspondem aos nossos objetivos nessa pesquisa, creio que este método não apenas não é o mais apropriado, como creio que deturparia nossas finalidades, acabando mais por atrapalhar do que ajudar.

O quadro que encontramos hoje é que pela primeira vez na história presenciamos a existência simultânea de duas equipes profissionais representando o futebol de São Carlos, disputando o imaginário e o coração torcedor da população de São Carlos. Neste caso, a rivalidade não se comporta de forma excludente, anulando o outro. Através da ideia de bifiliação, dentro do caráter local desses torcedores encontraremos a cidade como ponto de intersecção entre os clubes, fazendo o seu torcer muito menos rígido, e muito mais volátil - podendo assim compartilhar o torcer com ambos os clubes, pois sua preferência clubística está mais ligada ao local, de acordo com sua identificação com a cidade, do que com os times em si.

Observamos que ainda que a história do futebol profissional na cidade seja inconsistente, e marcada por interrupções na prática do esporte a nível profissional, o mesmo não ocorre com o imaginário local. Este continua trabalhando de forma cumulativa, vezes agregando clubes entre si e vezes os antagonizando. Ainda que alguns clubes surjam e outros deixem de existir no que se refere à prática do futebol profissional, o imaginário torcedor continua em exercício, perpassando a ideia temporal de existência de times - ou sua prática em nível profissional.



Palavras-chave


Sociabiliade torcedora, antropologia urbana, São Carlos