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ACOMETIMENTO DERMATOLÓGICO EM PACIENTES COM INFECÇÃO POR HIV/AIDS NO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS
Gabriela Rios Catelani, Maria Paula Barbieri D'Elia, Sigrid De Sousa Santos

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


Introdução

A infecção por HIV é uma doença potencialmente grave de notificação compulsória que afeta 0,4% da população brasileira. Durante o curso da infecção, desde a fase aguda até a fase aids, as manifestações dermatológicas são comuns: dermatoses eritemato-descamativas, erupções pruriginosas, também infecções virais, fúngicas e bacterianas, farmacodermias e neoplasias.

Objetivo

O presente estudo tem por objetivo avaliar a frequência e a distribuição de manifestações dermatológicas em pacientes infectados por HIV no município de São Carlos.

Metodologia

Estudo descritivo transversal com análise dos prontuários de pacientes com diagnóstico de infecção por HIV, do Centro de Atendimento a Infecções Crônicas de São Carlos (CAIC), entre Janeiro de 2014 e 28 de Fevereiro de 2019. As informações foram coletadas de forma estruturada, utilizando formulário padronizado no programa Epi Info. Foram coletados dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais dos prontuários, além da presença ou ausência de manifestações dermatológicas discriminadas por síndromes e etiologias. Cada variável foi avaliada quanto a seu padrão de distribuição. Foram também avaliadas as variáveis associadas à ocorrência de manifestações dermatológicas.

Resultados

Foram 124 prontuários avaliados, predominando pacientes do sexo masculino (79,0%) com idade média de 35 anos. O maior fator de risco de transmissão de HIV foi a via sexual, identificada em 81,5% da amostra. O diagnóstico precoce ocorreu na maioria dos pacientes (66,9%) e a mediana da contagem de linfócitos T CD4 mais baixa foi de 437 cels/mm³, com intervalo interquartil 25-75% de 241 a 617 cels/mm3. Em relação às manifestações dermatológicas, 53 pacientes (42,7%) possuíam algum tipo de manifestação, distribuídas de forma geral entre manifestações virais, bacterianas, micobacterianas, fúngicas e não-infecciosas. Em 20,2% das descrições, as infecções virais estiveram presentes. Dessas, as mais frequentes etiologias foram herpes-zóster e infecção por HPV, contribuindo com 22,6% das manifestações dermatológicas descritas cada uma. As dermatoses não infecciosas e as infecções bacterianas seguiram-se, perfazendo 12,1% e 9,7% das descrições, respectivamente.

Conclusões

Estima-se que, durante a evolução da infecção por HIV, entre 40% a 95% dos pacientes desenvolva manifestações dermatológicas (NAVARRETE-DECHENT, 2015). No presente estudo, a menor frequência de manifestações (42,7%) deve se relacionar a um diagnostico cada vez mais precoce da infecção por HIV em nosso meio e à disponibilidade de tratamento antirretroviral potente. Outro dado relevante é que, em 14 prontuários, não foi possível adquirir informações sobre manifestações dermatológicas, podendo estas serem assintomáticas ou não avaliadas, demonstrando pouca qualidade no registro.

As características associadas ao desenvolvimento de dermatoses foram ter antecedente de IST (p=0,027), de dislipidemia (p=0,005), e doença mais avançada, com diagnostico tardio (0,033). Houve tendência de haver menor nadir de contagem de linfócitos T CD4, mas sem associação significativa (p=0,054).

Assim, espera-se que, com disponibilidade de melhor controle da doença, início precoce do tratamento, amplo rastreio de ISTs e controle da dislipidemia, haja diminuição da morbidade dos pacientes com HIV/aids e doenças dermatológicas.


Palavras-chave


HIV, Aids, dermatoses, doenças cutâneas, pele

Referências


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