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Levantamento Populacional de Mico-leão-preto em uma Área de Preservação Permanente
Giulianna Rondineli Carmassi, Nadine Michele Svab Santos

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


O bioma Mata Atlântica é considerado um dos mais biodiversos do Brasil, entretanto, nos últimos anos foi extremamente devastado devido às ações antrópicas. Um dos maiores problemas causados por essas ações é a perda e fragmentação de habitats que consequentemente levam à extinção de espécies. O gênero Leontophitecus abriga quatro espécies de primatas, entre elas está o mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) que se encontra restritamente distribuído em remanescentes de Mata Atlântica no estado de São Paulo. Além de ser um primata endêmico, a espécie utiliza de diversos micro-habitats para o seu forrageio e como a maioria dos primatas, é vocalmente ativa. O mico-leão-preto está ameaçado de extinção na categoria em perigo (EN) pela IUCN, principalmente pela fragmentação de seus habitats naturais. Com isso, a caracterização da população de micos-leão-preto em uma Área de Preservação Permanente simultaneamente com uma ação de educação ambiental se fez necessária, visto que a espécie é considerada um importante alvo para a conservação. O estudo foi conduzido em uma propriedade particular no sudoeste do Estado de São Paulo, no município de Buri-SP, de modo a caracterizar esta população quanto à distribuição espacial, composição etária e número de indivíduos. Para isso, foram realizadas visitas semanais durante dois meses nos pontos de amostragem através de trilhas pré-existentes, utilizando a metodologia adaptada do playback. Ao avistar os animais, os pontos eram marcados no GPS e posteriormente plotados em um mapa. Além disso, foram realizadas palestras em uma escola de ensino fundamental do município a fim de conscientizar a população local e estimular pesquisas científicas na região. Foram registrados três grupos de mico-leão-preto, em cinco pontos diferentes. A constituição desses grupos foi: grupo G1 composto por quatro indivíduos, sendo 2 adultos e 2 infantes carregados pelos pais; grupo G2 composto por 9 indivíduos, divididos em 5 adultos, 2 subadultos e 2 infantes; e grupo G3, composto por 8 indivíduos, sendo 7 adultos e 1 infante. Foram encontrados grupos em três dos oito pontos de coletas pré-definidos, no entanto, houveram registros em dois pontos inesperados e quatro dos oito pontos não tiveram registros dos animais. Dessa forma, foi possível perceber a variedade de micro-habitats utilizados pela espécie, e ao comparar com a literatura, o número de indivíduos e a composição dos grupos estão dentro dos padrões descritos para o gênero. A metodologia do playback se mostrou eficiente no estudo. Com relação ao trabalho de educação ambiental, os estudantes mostraram muito interesse no assunto, interagindo de diversas formas. Destaca-se, portanto, a importância deste estudo para as comunidades científica e local: a quantificação e caracterização dos grupos de mico-leão-preto são informações essenciais para auxiliar em outras pesquisas e novos planos para a conservação da espécie.


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