Última alteração: 2021-02-25
Resumo
INTRODUÇÃO
Edmund Burke é considerado idealizador do conservadorismo em sua gênese (CASSIMIRO, 2017). Ele defende a monarquia e o monoteísmo cristão ocidental, bem como a antirrevolução, a superioridade da nobreza e a desigualdade social natural (BURKE, 1982). Essas concepções compõem um problema social por responsabilizarem determinados grupos pela degradação social, gerando e justificando diversas formas de perseguição (QUADROS, 2015; SOUZA, 2016). A partir da inter-relação entre psicologia social e individual demonstrada por Freud (2016a), é possível compreender fenômenos culturais por meio de conceitos que, embora desenvolvidos em âmbito individual, revelaram desde o início, um sujeito que se constitui por meio de interações sociais. Desta forma, pode-se investigar o movimento conservador a partir da perspectiva psicanalítica.
OBJETIVO
Por conta da ameaça que os ideais de Burke representam aos Direitos Humanos (ONU, 2009), faz-se relevante o estudo da cultura e da massa para a compreensão da adesão contemporânea ao conservadorismo (BAUMAN, 2017) cuja caracterização é semelhante à proposta em sua gênese, sendo esse o objetivo desta pesquisa.
MÉTODO
Revisão da literatura psicanalítica, sendo selecionados textos de Freud que trabalham os conceitos de cultura e massa. Foram também selecionados artigos e obras que exploram a gênese do conservadorismo, seu contexto histórico e sua manifestação contemporânea.
RESULTADOS
A defesa conservadora da antirrevolução se relaciona com o medo primitivo da degradação da massa. Esse medo fundamenta-se parcialmente na ligação libidinal estabelecida entre seus membros. Tal ligação ocorre porque os indivíduos precisam realizar o sacrifício de parte de suas pulsões para assegurar a sobrevivência do grupo. Há, portanto, um medo inconsciente de que, com o fim da massa, exista também o fim da renúncia pulsional, gerando um colapso social (BURKE, 1982; FREUD, 2016a).
Estabeleceu-se também a relação entre a defesa da monarquia e o ideal de eu. O ideal da massa pode substituir o ideal de eu individual. Esse processo constitui-se como um problema, uma vez que o ideal de eu da massa baseia-se na figura do pai primevo, indivíduo agressivo que age apenas visando a satisfação de seus próprios desejos. Submetido a essa substituição, o sujeito busca lideranças com tais qualidades, obtendo prazer narcísico por conta da identificação com o líder. São essas qualidades que Burke exalta no monarca (BURKE, 1982; FREUD, 2016a, 2016b).
Por fim, estipulou-se a relação entre a defesa da religião e o desamparo infantil. A base da religião é o desamparo infantil, o qual leva à busca de um cuidador sobrenatural capaz de poupar o indivíduo de diversos sofrimentos, desde que ele siga determinadas regras. A relação afetiva que a humanidade mantém com tal ideia de providência é mobilizada por Burke quando ele defende os valores cristãos (BURKE, 1982; FREUD, 2017).
CONCLUSÕES
Conclui-se que o conservadorismo concebido por Edmund Burke se sustenta por mobilizar afetos primitivos e infantis que se baseiam no medo de retorno a um estado de luta da humanidade contra si mesma e no desamparo dos cuidadores, os quais jamais poderão proteger completamente o indivíduo da realidade e mantê-lo em um estado onipotente narcísico.
Palavras-chave
Referências
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMAN, Z.; DESSAL, G. O retorno do pêndulo. Rio de Janeiro: Zahar, 2017, 131 p.
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