Portal de Eventos CoPICT - UFSCar, XXVII CIC e XII CIDTI

Tamanho da fonte: 
CHUVA DE SEMENTES DE UMA FLORESTA DE RESTINGA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Lucas de Souza dos Santos, Renata Sebastiani, Valéria Forni Martins

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


Em Unidades de Conservação (UCs), conhecer as espécies presentes na comunidade é imprescindível para planos de manejo, implementação de corredores ecológicos, reflorestamento, etc (Amador, 2003; Chaves et al., 2013; Silva et al., 2018). Comunidades florestais são comumente descritas a partir do levantamento dos indivíduos arbóreos grandes (e.g., Joly et al., 2012). Porém, também é crucial conhecer a comunidade de diásporos (i.e. sementes, frutos e outras unidades de dispersão) recém-dispersos em uma área (i.e. chuva de sementes), pois eles são importantes para a regeneração natural da comunidade vegetal (Harper, 1977). Não necessariamente os diásporos da chuva de sementes são autóctones (i.e. provenientes da comunidade local), pois algumas espécies podem não se reproduzir em um período (van Schaik et al., 1993) e outras espécies podem chegar de fora da comunidade (i.e. alóctones) (Terborgh et al., 2019). Além disso, a abundância relativa de uma espécie pode diferir entre a chuva de sementes e a comunidade arbórea, pois a abundância de diásporos depende do número de adultos se reproduzindo e da fecundidade dos adultos (Jordano & Schupp, 2000; Jordano et al., 2007; Morales et al., 2012). No Brasil, a Restinga (vegetação mais próxima à praia) é considerada prioritária para a instalação de UCs por apresentar espécies endêmicas (Rodrigues & Bononi, 2008) e ser muito ameaçada pelo mercado imobiliário e pelo turismo (Alho et al., 2002; Campos & Silveira Filho, 2010). Assim, nosso objetivo foi descrever a chuva de sementes da Floresta de Restinga do Núcleo Picinguaba, Parque Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de São Paulo. A chuva de sementes foi coletada mensalmente por dois anos usando-se 60 coletores aleatoriamente distribuídos em 1 ha. As espécies arbóreas da área haviam sido previamente identificadas por Joly et al. (2012). O material coletado foi seco e triado. Encontramos 46 morfotipos na chuva de sementes, pertencentes a 20 famílias e 12 gêneros. Pudemos identificar apenas seis espécies devido à difícil classificação de frutos e sementes secos. Nos dois anos de coleta, encontramos mais famílias autóctones (68,5%) do que alóctones (31,5%), padrão comumente relatado em outros estudos de chuva de sementes (Walker & Neris, 1993; Willson, 1993; Penhalber & Mantovani, 1997; Nathan & Muller-Landau, 2000; Clark et al., 2001; Battilani et al., 2006). Também encontramos que metade das famílias da comunidade arbórea ocorre na chuva de sementes nos dois anos. É comum que estudos, mesmo de longa duração, não encontrem todas as espécies da comunidade arbórea na chuva de sementes (Terborgh et al., 2019). Por último, a abundância relativa de diásporos e de árvores de uma mesma família não foi correspondente. Entretanto, Arecaceae e Myrtaceae, famílias muito abundantes na comunidade arbórea, também foram as mais abundantes na chuva de sementes. Este estudo reforça a importância da Sistemática e do estudo da chuva de sementes para a implementação e a manutenção de UCs. Também destacamos a necessidade do refinamento da identificação de diásporos secos para a compreensão de processos ecológicos, o que só será possível com guias e chaves de identificação específicos para chuva de sementes.


Palavras-chave


Dispersão de sementes, Ecologia, Floresta Atlântica, Levantamento Florístico, Sistemática Vegetal

Referências


ALHO, C. J. R.; SCHNEIDER, M.; VASCONCELLOS, L.A. Degree of threat to the biological diversity in the Ilha Grande State Park (RJ) and guidelines for conservation. Brazilian Journal of Biology, [S.L.], v. 62, n. 3, p. 375-385, ago. 2002.

AMADOR, D.B. Restauração de Ecossistemas com Sistemas Agroflorestais. IN: KAGEYMA, P.Y. et al. Restauração ecológica de ecossistemas naturais. Botucatu: FEPAF, 340p. cap. 15, p. 331 - 340. 2003.

BATTILANI, J.L.; SANTIAGO, E.F. & SOUZA, A.L.T. Morfologia de frutos, sementes e desenvolvimento de plântulas e plantas jovens de Maclura tinctoria (L.) D. Don. Ex Steud. (Moraceae). Acta Botanica Brasilica 20: 581-589. 2006.

CAMPOS, J. B.; SILVEIRA-FILHO, L. Série Ecossistemas Paranaenses - Restinga - Volume 1. Curitiba: SEMA, 2010 (Cartilha).

CHAVES, Alan del Carlos Gomes et al. A Importância dos Levantamentos Florístico e Fitossociológico para a Conservação e Preservação das Florestas. Acsa: Agropecuária Científica no Semiárido, Patos - PB, v. 9, n. 2, p. 42-48, jun. 2013.

CLARK, C.J., POULSEN, J.R. & PARKER, V.T. The role of arboreal seed dispersal groups on the seed rain of a lowland tropical forest. Biotropica 33:606-620, 2001.

HARPER, J. L. Population Biology of plants. Academic Press, London. 892p. 1977.

JOLY, Carlos Alfredo et al. Floristic and phytosociology in permanent plots of the Atlantic Rainforest along an altitudinal gradient in southeastern Brazil. Biota Neotropica, v.12, n. 1, p.125-145, 2012.

JORDANO, P. & SCHUPP. E.W. Seed disperser effectiveness: the quantity component and patterns of seed rain for Prunus mahaleb. Ecological Monographs 70: p.591-615, 2000.

JORDANO, P.; GARCIA, C.; GODOY, J. A.; GARCIA-CASTANO, J. L. Differential contribution of frugivores to complex seed dispersal patterns. Proceedings of The National Academy of Sciences, [S.L.], v. 104, n. 9, p. 3278-3282, 20 fev. 2007. Proceedings of the National Academy of Sciences.

MORALES, J.M.; RIVAROLA, M.D.; AMICO, G.; CARLO, T.A. Neighborhood effects on seed dispersal by frugivores: Testing theory with a mistletoe-marsupial system in Patagonia. Ecology. São Paulo, p. 741-748. apr 2012.

NATHAN, R.; MULLER-LANDAU, H.C. Spatial patterns of seed dispersal, their determinants and consequences for recruitment. Trends in Ecology & Evolution, [S.L.], v. 15, n. 7, p. 278-285, Jul. 2000. Elsevier BV.

PENHALBER, E. F.; MANTOVANI, W. Floração e chuva de sementes em mata secundária em São Paulo, SP. Revista Brasileira de Botânica, v. 20, 205-220. 1997.

RODRIGUES, R. R.; BONONI, V. L. R. (Orgs.) Diretrizes para a conservação e restauração da biodiversidade no estado de São Paulo. São Paulo: Instituto de Botânica/Programa BIOTA/FAPESP, 2008.

SILVA, J.P.G.; MARANGON, L.C.; FELICIANO, A.L.P.; FERREIRA, R.L.C. Chuva de Sementes e Estabelecimento de Plântulas em Floresta Tropical na Região Nordeste do Brasil. Ciência Florestal, [S.L.], v. 28, n. 4, p. 1478, 16 dez. 2018. Universidade Federal de Santa Maria.

TERBORGH, J., ZHU, K., ALVAREZ L.P., and CORNEJO V.F. Seed limitation in an Amazonian floodplain forest. Ecology. 100(5): e02642; 2019.

VAN SCHAIK, C.P.; TERBORGH, J.W. & WRIGHT, S.J. The phenology of tropical forests: daptive significance and consequences for primary consumers. Annual Review of Ecology nd Systematics 24:353-377. 1993.

WALKER, L.A. & NERIS, L.E. Post hurricane seed rain dynamics in Puerto Rico. Biotropica 25:408-418. 1993.

WILLSON, M.F. Dispersal mode, seed shadows, and colonization patterns. Vegetatio 107/108: 261-280, 1993.