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HISTÓRIAS REAIS DE SOPHIE CALLE?
Carla Alexandra Ferreira, Renan Augusto Ferreira Bolognin, Lara Martelini Marins

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


A obra Histórias reais, da artista francesa Sophie Calle (2009), repousa-se entre o real e a ficção. Essa indefinição de real e ficcional, inclusive, é um traço marcante da literatura e das artes contemporâneas. Em “Literaturas pós-autônomas”, Josefina Ludmer (2010) define a literatura pós-autônoma como aquela que sai do cerco literário e, comporta novos modelos narrativos. Néstor Garcia Canclini (2010) também trabalha esse conceito e o amplia para abarcar uma multiplicidade de formas artísticas que transbordam o campo e são invadidas pelo mercado, pela mídia, pela política, pelas novas tecnologias e pelas ciências sociais. Para coadunarmos a análise do livro da autora ao conceito de pós-autonomia, o interpretamos a partir de diversas produções textuais científicas que compõem a fortuna crítica sobre a obra da artista, como artigos e ensaios. Em relação a nossa percepção científica sobre a obra da artista francesa, nossa análise aproximou os personagens a jogos autoficcionais que se expandem para além da literatura e incorporam objetos e fotografias próprios e alheios como supostas evidências de veracidade. Em outras palavras, ao mesclar a realidade com uma ficção em que o dito e o não dito são pontos de contato entre palavras que fazem ver e imagens que fazem falar, vida e arte se tornam únicas nessa obra. Sendo assim, a hibridez dessas Histórias reais, bem como a sua tensão a outros gêneros, representa verdadeiras desestabilizações tocantes ao campo literário. Afirmamos isso devido a estética do livro estar amparada na narração de uma ficção criada com a organização de elementos do cotidiano e diferentes articulações entre o eu e o outro, entre a fotografia e a palavra. Tendo em vista a discussão descrita, nossa comunicação propõe apresentar duas análises relativas a textos e fotografias das Histórias reais, de Sophie Calle. Por fim, ao longo de nossa pesquisa de iniciação científica concluímos que Histórias reais é um jogo aberto: vai além da narração, pois é o leitor quem valida a história, se apropria de suas regras, ordena as narrativas da obra e esboça significações que estão além das letras impressas nos textos e fotografias do livro. Portanto, Calle nos convida a debater o caráter peculiar de acontecimentos cotidianos por meio de fotografias, palavras e relações entre as histórias sinalizadas como por uma indeterminação sempre presente de ora parecerem autobiográficos, ora parecerem reais.


Palavras-chave


Literatura pós-autônoma; Literatura contemporânea; Histórias reais; Sophie Calle.

Referências


CALLE, Sophie. Histórias reais. Trad. Hortencia Santos Lancastre. São Paulo: Agir, 2009.

 

CANCLINI, Néstor García. A sociedade sem relato. Trad. Maria Paula Gurgel Ribeiro. SP: Edusp, 2016.

 

LUDMER, Josefina. Literaturas pós-autônomas. Desterro: Sopro, 2010.