Portal de Eventos CoPICT - UFSCar, XXVII CIC e XII CIDTI

Tamanho da fonte: 
FENOLOGIA DE FRUTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES ARBÓREAS ORNITOCÓRICAS EM NÍVEL DE POPULAÇÃO E DE COMUNIDADE NA FLORESTA ATLÂNTICA DO SUDESTE DO BRASIL
Aline Christina Oliveira, Kelly Fernandes Oliveira Ribeiro, Valéria Forni Martins

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


A manutenção da comunidade de aves frugívoras em uma região depende fortemente da disponibilidade de diásporos ornitocóricos ao longo do tempo e do espaço (Grombone-Guaratini & Rodrigues, 2002). Em florestas tropicais com fraca estacionalidade climática, a riqueza de espécies frutificando é conhecidamente assazonal (Hilty, 1980; Morellato et al., 2000). Porém, não é conhecido se as diferentes espécies ornitocóricas da comunidade frutificam de forma assazonal durante o ano todo ou sazonal e assincronicamente. Os padrões fenológicos podem variar entre espécies devido à competição por polinizadores e dispersores de sementes (Aide, 1988; van Schaik et al. 1993). Além disso, podem variar para a mesma espécie entre anos (Engel & Martins, 2005) e entre locais próximos dentro de uma floresta devido à heterogeneidade ambiental (Bencke & Morellato, 2002). Assim, esperamos variação na fenologia de frutificação da mesma espécie e entre espécies (nível de população) ao longo do ano, entre anos e entre áreas de uma floresta, mas que a oferta total de diásporos ornitocóricos pela comunidade seja constante no tempo e no espaço. Usamos dados da chuva de sementes coletada ao longo de dois anos em duas parcelas não-contíguas de 1 ha cada instaladas na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do sudeste do Brasil. Considerando-se a comunidade de diásporos provenientes de espécies arbóreas ornitocóricas, a maioria das espécies foi autóctone e a proporção de espécies autóctones não diferiu entre anos e entre parcelas. A riqueza foi constante ao longo de um mesmo ano, entre anos e entre parcelas. Já a composição e a abundância foram sazonais, mas semelhantes entre anos e entre parcelas. A exceção foi a maior abundância de diásporos em um ano em uma parcela. Considerando-se individualmente as seis espécies arbóreas ornitocóricas mais abundantes na chuva de sementes, a frutificação foi sazonal e, em geral, assincrônica. Além disso, a sazonalidade de cada espécie e os poucos casos de sincronia entre espécies variaram entre anos e entre parcelas. Nossos resultados estão de acordo com as expectativas de variação nos padrões de frutificação das espécies ao longo do ano (Haggerty & Mazer, 2008; van Schaik et al., 1993), entre anos (Engel & Martins, 2005) e entre áreas de uma mesma região de floresta tropical (Bencke & Morellato, 2002). Os resultados também mostram que o padrão de frutificação sazonal e assincrônico das espécies ornitocóricas provém diásporos de um número similar de espécies da comunidade arbórea local ao longo de um mesmo ano, mas pertencentes a espécies diferentes e em abundância variável. Entre anos e entre parcelas, a riqueza, composição e abundância de diásporos ornitocóricos são relativamente constantes. Dessa forma, corroboramos nossa hipótese de que a oferta de alimento às aves frugívoras é constante no tempo e no espaço na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas estudada quando considerado o nível da comunidade, mas não o nível de populações. Este estudo mostra a importância de se avaliar individualmente o padrão fenológico das espécies que compõem uma comunidade, visto que o padrão das espécies pode não ser coincidente com o da comunidade como um todo.


Palavras-chave


chuva de sementes, variação espacial, variação temporal

Referências


AIDE, T. M. Herbivory as a selective agent on the timing of leaf production in a tropical understory community. Nature, v. 336, p. 574–575, 1988.

BENCKE, C. S. C.; MORELLATO, L. P. C. Estudo comparativo da fenologia de nove espécies arbóreas em três tipos de floresta atlântica no sudeste do Brasil. Revista Brasil. Bot, v. 5, n. 2, p. 237–248, 2002.

ENGEL, V. L.; MARTINS, F. R. Reproductive phenology of Atlantic forest tree species in Brazil: an eleven-year study. Tropical Ecology, v. 46, p. 1–16, 2005.

GROMBONE-GUARATINI, M. T.; RODRIGUES, R. R. Seed bank and seed rain in a seasonal semi-deciduous forest in south-eastern Brazil. Journal of Tropical Ecology, v. 18, p. 759–774, 2002.

HAGGERTY, B. P.; MAZER, S. J. The Phenology Handbook - A guide to phenological monitoring for students, teachers, families, and nature enthusiasts. University of California, 2008.

HILTY, S. L. Flowering and fruiting periodicity in a premontane rain forest in pacific Colombia. Biotropica 12:292-306, 1980.

MORELLATO, L. P. C. et al. Phenology of Atlantic Rain Forest trees: A comparative study. Biotropica, n. 32, p. 811–823, 2000.

VAN SCHAIK, C. P.; TERBORGH, J. W.; WRIGHT, S. J. The phenology of tropical forests: adaptative significance and consequences for primary consumers. Annual Review of Ecology and Systematics, v. 24, p. 353–377, 1993.