Portal de Eventos CoPICT - UFSCar, XXVII CIC e XII CIDTI

Tamanho da fonte: 
Análise quantitativa de partículas microplásticas em operárias campeiras de Scaptotrigona postica Latreille, 1804 (Hymenoptera: Apidae)
Luccas de Almeida Santos, Fábio Camargo Abdalla, Gláucia Isabel de Andrade Sebastião, Guilherme Andrade Neto Schmitz Boeing

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


Microplásticos são subprodutos do plástico, decorrentes da degradação por processos geofísicos e geoquímicos no meio ambiente, formando partículas plásticas que abrangem entre 1 µm e 5 mm após fragmentados. Os plásticos não sofrem biodegradação e, somado ao descarte negligente, são encontrados ubiquamente no planeta, seja no ar, solo ou águas, sendo considerados como contaminantes emergentes em nossos dias. Os microplásticos contaminam o meio ambiente de maneira crescente desde a década de 30, sendo descritos nos ambientes de águas oceânicas desde a década de 70. Devido ao uso recorrente e não reutilização da maior parte dos objetos plásticos nas atividades diárias, estima-se que 300 milhões de toneladas de plásticos são liberados no meio ambiente anualmente. Em vista do panorama atual, da indústria de produção e da dispersão dos plásticos, a presença destes nas águas continentais e no solo, o presente estudo tem como objetivo investigar se os microplásticos poderiam estar sendo ingeridos por abelhas nativas sem ferrão, ante a importância destas abelhas como agentes dos serviços de polinização e, principalmente, ante a grave ameaça de desaparecimento destas abelhas devido a intoxicação por xenobióticos e degradação de seus habitats naturais. Portanto, decorrente da falta de estudos sobre o assunto na literatura atual, desenvolveu-se o projeto para analisar e detectar a presença de possíveis partículas microplásticas no sistema digestório de operárias campeiras de Scaptotrigona postica. As abelhas coletadas na Universidade Federal de São Carlos – Campus de Sorocaba foram dissecadas para retirada dos intestinos e subsequente armazenamento em frascos de vidro 10 mL, em grupos de cinco intestinos por frasco. Foi feita a imersão dos intestinos, ainda nos frascos, em uma solução de digestão composta por uma solução KOH 20% e H2O2 35%, na proporção 7:3, por 72h em banho-maria a 60 º C, a fim de digerir o conteúdo orgânico. As digestões são feitas em pares, sendo um frasco de amostra biológica e outro, o controle, com apenas solução de digestão. Após a digestão da matéria orgânica, as soluções foram transferidas para microtubos e levadas a centrifugação por 1h a 1000G. Após, as amostras biológicas e controles são coradas com corante Vermelho do Nilo e corante específico para DNA, dihidrocloreto 4’,6’-diamidino-2-fenilindol (DAPI) e, então, realizada a contagem de partículas em Câmara de Neubauer com auxílio de um microscópio de fluorescência em campo claro e sob os espectros de luz verde e azul. A partir deste estudo será possível ter um panorama da presença do poluente em questão em abelhas, levando a respostas inéditas na ciência e novas perguntas e estudos para melhor compreensão dos efeitos da presença dos microplásticos não somente em indivíduos da espécie S. postica, mas, também, em outros insetos.


Palavras-chave


microplástico, abelhas nativas, contaminação, Scaptotrigona postica

Referências


Bactérias marinhas fazem digestão de plástico no oceano eCycle, 21, Jan. 2014. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/component/content/article/8-tecnologia-a-favor/2071-bacterias-marinhas-fazem-digestao-de-plastico-no-oceano.html Aceso em: 29/01/2021

Brasil é o 4º país do mundo que gera mais lixo plástico. WWF International. 04, Mar. 2019. Disponível em:   https://www.wwf.org.br/participe/horadoplaneta/?70222/Brasil-e-o-4-pais-do-mundo-que-mais-gera-lixo-plastico Acesso em: 26/01/2020

CARPENTER, E. J.; SMITH, K. L.Plastics on the Sargasso Sea Surface. Science, v. 175, p. 1240–1241, 1972.

CASSOLA, G. E.; GIBSON, M. I.; THOMPSON, R. C.; OLEZA, J. C. Lost, but found with Nile red: a novel method to detect and quantify small microplastics (20 μm–1 mm) in environmental samples. Environmental Science & TechnologyLetters, v. 53, n. 23, p. 13641 – 13648, 2017.

CONCEIÇÃO, M. M., et al. O plástico como vilão do meio ambiente. Revista Geociências UNG-Ser, Guarulhos-SP, v. 18, n. 1, p. 50 -53, 2019.

DICKEY Z. G. (2011). Marine microbes digest plastic. Nature, Mar. 2011 doi:10.1038/news.2011.191

IMPERATRIZ-FONSECA, V. L., & NUNES-SILVA, P. As abelhas, os serviços ecossistêmicos e o Código Florestal Brasileiro. Biota Neotropica, 10(4), 59–62. 2010 doi:10.1590/s1676-06032010000400008

LUSHER, A. L.; MILIAN, G. H. Microplastic Extraction from Marine Vertebrate Digestive Tracts, Regurgitates and Scats: A Protocol for Researchers from All Experience Levels. Bio-protocol v.8 iss. 22 nov., 2018

MAES, T., JESSOP, R., WELLNER, N., HAUPT, K., & MAYES, A. G. A rapid-screening approach to detect and quantify microplastics based on fluorescent tagging with Nile Red. Scientific Reports, v. 7, n. 1., p. 1 – 9, 2017.

OLIVATTO, G.P; et al. Microplásticos: Contaminante de Preocupação Global no Antropoceno. Revista Virtual de Química, Rio de Janeiro, v. 10, no. 6, dezembro, 2018.

THOMPSON, R. C., MOORE, C. J., VOM SAAL, F. S., & SWAN, S. H. Plastics, the environment and human health: current consensus and future trends. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, v. 364, p. 2153–2166,2009.

TRIEBSKORN, R., et al. Relevance of nano- and microplastics for freshwater ecosystems: a critical review. Trends in Analytical Chemistry. v. 110, p. 375 – 392, 2019.

WALKINSHAW, C., et al. Microplastic and seafood: lower trophic organisms at highest risk of contamination. Ecotoxicology and Environmental Safety,Elsevier Inc., vol. 190, Mar. 2020.