Portal de Eventos CoPICT - UFSCar, XXVII CIC e XII CIDTI

Tamanho da fonte: 
CITOQUÍMICA DOS ÓRGÃOS DE ABELHAS MELÍFERAS EXPOSTAS AO IMIDACLOPRIDO E INFECTADAS POR N. ceranae E AVALIAÇÃO DA TRANSMISSÃO VERTICAL DESSE MICROSPORÍDIO PARA ABELHAS SEM FERRÃO
Isabelle Christine Corrêa de Araújo, Hellen Maria Soares-Lima, Elaine Cristina Mathias da Silva Zacarin

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


O declínio de populações de Apis mellifera é um problema global relatado ao longo dos anos. As causas são atribuídas a diversos fatores, tendo como exemplo o uso indiscriminado de agrotóxicos neonicotinóides e doenças, como a causada pelo endoparasita intestinal Nosema ceranae. Devido à diminuição citada, estudos com abelhas sem ferrão vêm ganhando destaque, como trabalhos com Tetragonisca angustula, popularmente conhecida como jataí, a qual compartilha recursos florais com A. mellifera e pode ser infectada pelos mesmos parasitas que afetam a espécie exótica, além de também estarem expostas aos efeitos dos agrotóxicos. Dessa forma, esse estudo visa buscar maior entendimento dos efeitos do neonicotinóide imidacloprido na histologia do cérebro, intestino e túbulos de Malpighi de A. mellifera, além da infecção por N. ceranae isolada e em conjunto com o inseticida, considerando os mesmos órgãos. Adicionalmente, este estudo se aprofundou sobre a possibilidade de transmissão vertical de N. ceranae por esporos provenientes de A. mellifera africanizada para a espécie nativa T. angustula. Para a análise dos órgãos de A. mellifera, 72 lâminas foram montadas com cortes histológicos de 6 grupos experimentais, e coradas por Xilidine Ponceau e Sudan Black, sendo analisadas 36 lâminas de cérebro. Era esperado que não houvesse marcação por Sudan Black no cérebro, no entanto, o grupo exposto a infecção por Nosema e a 0,0075 ng/μL de imidacloprido (N+CL50/1000) apresentou uma marcação mais intensa positiva aos lipídios nos corpos pedunculados, podendo indicar inchaço nas membranas de organelas das células de Kenyon causado pelo agrotóxico. Para total compreensão dos efeitos da contaminação por imidacloprido e da infecção por N. ceranae, é necessário que o restante das lâminas seja analisado. Para a avaliação da transmissão vertical de N. ceranae, 34 indivíduos de jataí de três colônias diferentes não-irmãs foram alimentados com extrato de esporos frescos provenientes de A. mellifera por 24h ad libitum e, após 12 dias, tiveram seus abdomens macerados para formação de extrato de esporos submetido a contagem em câmara de Neubauer. Cinco campos foram utilizados na contagem para estimativa da concentração de esporos por abelha de cada colônia. A média, considerando as três colônias, foi de 325.000 ± 94.372,93 esporos/abelha. Apesar da presença de N. ceranae, é necessária análise histológica para confirmação da infecção no epitélio intestinal, a ser realizada na próxima etapa do projeto. Ainda que a infecção intracelular não seja confirmada, a espécie T. angustula pode tornar-se vetor da nosemose para outros indivíduos e espécies de abelha, visto que a presença de esporos foi confirmada, o que demonstra a importância de estudos mais aprofundados na saúde de abelhas nativas e suas interações entre espécies.


Palavras-chave


nosema; esporos; abelha sem ferrão; transmissão vertical

Referências


ALAUX, C.; BRUNET J. L.; DUSSAUBAT, C.; MONDET, F.; TCHAMITCHAN, S.; COUSIN, M.; BRILLARD, J.; BALDY, A.; BELZUNCES, L. P.; CONTE, Y. Interactions between Nosema microspores and a neonicotinoid weaken honeybees (Apis mellifera). Environmental Microbiology, v.12, n.3, p.774-782, 2010.

GUIMARÃES-CESTARO, L.; MARTINS, M. F.; MARTÍNEZ, L. C.; ALVES, M. L. T. M. F.; GUIDUGLI-LAZZARINI, K. R.; NOCELLI, R. C. F.; MALASPINA, O.; SERRÃO, J. E.; TEIXEIRA, E. W. Occurrence of virus, microsporidia, and pesticide residues in three species of stingless bees (Apidae: Meliponini) in the field. The Science of Nature, v. 107, n. 16, p. 1-14, 2020.

PIRES, C. S. S.; PEREIRA, F. M.; LOPES, M. T. R.; NOCELLI, R. C. F., MALASPINA, O.; PETTIS, J. S.; TEIXEIRA, E. W. Enfraquecimento e perda de colônias de abelhas no Brasil: há casos de CCD?. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.51, n.5, p.422-442, 2016.

PLISCHUK, S.; MARTÍN-HERNÁNDEZ, R.; PRIETO, L.; LUCÍA, M.; BOTÍAS, C.; MEANA, A.; ABRAHAMOVICH, A. H.; LANGE, C.; HIGES, M. South American native bumblebees (Hymenoptera: Apidae) infected by Nosema ceranae (Microsporidia), an emerging pathogen of honeybees (Apis mellifera). Environmental Microbiology Reports, v.1, n.2, p.131-135, 2009.

SOARES-LIMA, H. M. Efeitos combinados de Nosema ceranae e do inseticida imidacloprido sobre abelhas Apis mellifera africanizada. Universidade Estadual Paulista. Tese (doutorado), Instituto de Biociências. Rio Claro, 2017.