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Modos de vidas e o cotidiano da população em situação de rua de São Carlos - SP
Carla Regina Silva, Marina Dei Agnoli

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


Introdução: A população em situação de rua (PSR) vivencia os processos mais intensos de exclusões e desigualdades perpetrados por poderes hegemônicos políticos, econômicos e sociais como o patriarcado, colonialismo e o capitalismo alimentados ao longo da história. As políticas sociais especificas para este grupo são recentes, insuficientes e pouco sistematizadas. Como esse grupo não entra para as contagens censitárias populacionais nacionais, em novembro de 2019 em São Carlos-SP foi realizado o 1º Censo da População em Situação de Rua (1oCPSR) para compreender os modos de vida e as demandas deste grupo, coordenado pela gestão pública em parceria com a universidade e sociedade civil. Objetivos: A presente pesquisa teve como objetivos: mapear as atividades do cotidiano e as demandas; identificar as características de grupos mais vulneráveis; a partir dos dados obtidos no 1oCPSR e propor tecnologias sociais para as necessidades encontradas. Metodologia: foi realizado um estudo transversal com base nos micros dados do 1oCPSR e análises de dados quantitativos. As respostas foram tabuladas e sistematizadas em planilhas do software Excel Office®, dividida em quatros etapas: 1º Visão geral das características abordadas na pesquisa; 2º Identificação de riscos sociais; 3º Cruzamento entre as situações de risco social e 4º Indicação das vulnerabilidades da população em situação de rua. Resultados e conclusão: foi possível caracterizar o perfil da PSR de São Carlos, composto por 86% homens, 92% heterossexuais, 68% pretos e pardos e 50% das pessoas com idade entre 30 a 45 anos. Também foi possível mapear o cotidiano destas pessoas e observar, de forma criteriosa, atividades centrais nos modos de vida adotados pelos participantes, destacando-se como atividades relacionadas a sobrevivência como dormir, arrumar comida, comer, estar nas ruas, andar/deslocar e higienizar-se estão presentes enquanto atividades de lazer e bem-estar são escassas. Frente a estes dados, foi identificado que parte destes sujeitos vivem contextos de vidas ainda mais injustos e desfavorecidos, por não conseguirem realizar atividades importantes do dia a dia, as quais foram consideradas como situações de riscos sociais. Estas situações de risco, foram analisadas juntamente das demais atividades do cotidiano, como forma de compreender os cotidianos e os arranjos sobre os modos de vida deste grupo. Por fim, situações de risco foram analisadas entre si, evidenciando os cotidianos mais desfavorecidos. Frente às demandas identificadas ao longo da pesquisa, se destacam como situações que entrecruzam as vulnerabilidades: alta frequência das pessoas nas ruas, baixa adesão aos equipamentos públicos e a ausência de trabalho em seus cotidianos. As reflexões permitiram a proposição de tecnologias sociais em associação com a terapia ocupacional, a fim de contribuir com ações, serviços, tecnologias e políticas voltadas às necessidades específicas desta população.


Palavras-chave


população em situação de rua; dados censitários; risco e vulnerabilidade

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