Portal de Eventos CoPICT - UFSCar, XXVII CIC e XII CIDTI

Tamanho da fonte: 
Mudança morfológica em microalgas induzida por predação por Chironomus cf. xanthus
Suzana Luisa Alves Fernandes, Ana Beatriz Janduzzo Amaro de Lima, Letícia Piton Tessarolli, Thaís Garcia da Silva, Lívia Maria Fusari, Inessa Lacativa Bagatini

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


As microalgas  e cianobactérias são microrganismos fotossintetizantes que possuem diferentes morfologias e podem apresentar plasticidade fenotípica (fisiológica, bioquímica ou morfológica) sob efeito de alguns predadores (HA et al.,2004; MAYELI et al.,2004; VAN DONK et al.,2011). São produtoras primárias em ambientes aquáticos, sendo predadas por inúmeros heterótrofos, incluindo invertebrados bentônicos (FROUZ et al.,2004a). Entre os importantes invertebrados bentônicos que consomem microalgas, podemos citar larvas do gênero de insetos Chironomus (Chironomidae, Diptera) (BERG,1995; HERREN et al.,2017). Embora a variação morfológica para evitar predação por invertebrados planctônicos seja bem documentada, sabe-se pouco sobre a plasticidade fenotípica em microalgas predadas por essas larvas. Desta forma, avaliamos a plasticidade morfológica em três cepas de microalgas sob efeito de predação por larvas de Chironomus cf. xanthus. Avaliamos as microalgas Desmodesmus spinosus, pois este gênero apresenta plasticidade fenotípica sob predação de outros invertebrados (VAN DONK et al., 1999), e duas microalgas de gêneros encontrados no bentos, habitat das larvas: Micrasterias sp. uma alga verde (desmídia) e Cyclotella sp., uma diatomácea cêntrica. D. spinosus foi avaliada diretamente sobre predação, incubada a 43-53 µmol  fótons.m-2.s-1 com ciclo de 12/12h claro-escuro, a 20±1°C. No entanto, por problemas metodológicos, como interferência da areia utilizada pela larva (FROUZ et al.,2004b) e agregação das microalgas  pelo predador ao construir casulos, as outras algas foram avaliadas sob efeito do excretado da larva (efeito indireto). Neste caso, as algas foram colocadas em contato direto com a larva (53-63 µmol fótons.m-2.s-1, 12/12h, 20±1°C), após 4 dias o excretado foi filtrado e colocado em cultivos das mesmas algas (2:1 v/v) para avaliação das alterações morfológicas e incubadas a 155±15 µmol fótons.m-2.s-1 (12/12h) e 23±1°C. As tréplicas experimentais foram amostradas nos dias 2 e 4 para análises morfológicas ao microscópio ótico e de crescimento por absorbância (GRIFFITHS et al., 2011) . As diferenças entre tratamento e controle foram analisadas por de Teste t de student, para dados paramétricos, e Teste U de Mann-Whitney, para dados não paramétricos,  com α=0,05. D. spinosus apresentou, no segundo dia em contato direto com as larvas, redução significativa (média de 12,5%) no comprimento dos cenóbios, mas aumento significativo de 12,5% na largura máxima  em relação ao controle, devido ao aumento dos espinhos. No quarto dia, tanto largura como  comprimento máximos (ponta-a-ponta dos espinhos) foram significativamente maiores sob predação, respectivamente, um aumento médio de 12,1% e 13,2%. Em Cyclotella, também houve aumento significativo no comprimento e largura máximos em contato com o excretado das larvas:  a largura aumentou 4% em média no segundo dia, e no quarto dia o aumento na largura foi de 3,4% e no comprimento de 12,2% em relação ao controle.   Micrasterias não apresentou alteração morfológica significativa, houve apenas aumento significativo no crescimento (absorbância) no segundo dia do experimento. Este é o primeiro trabalho que demonstra plasticidade morfológica em microalgas predadas por quironomídeos. O conhecimento sobre a plasticidade morfológica das espécies de microalgas sob predação pode auxiliar na taxonomia desses microrganismos. Além disso, pode auxiliar em futuros estudos sobre as interações entre  larva-microalgas e seus efeitos na biota e na produtividade local.  

Palavras-chave


plasticidade morfológica, chironomus, microalgas, predação

Referências


BERG, M. B. Larval food and feeding behaviour. The Chironomidae, p. 136–168, 1995.

FROUZ, J.; ALI, A.; LOBINSKE, R. J. Laboratory Evaluation of Six Algal Species for Larval Nutritional Suitability of the Pestiferous Midge Glyptotendipes paripes (Diptera: Chironomidae). Journal of Economic Entomology, v. 97, n. 6, p. 1884–1890, 2004a.

FROUZ, J.; ALI, A.; LOBINSKE, R. Algal food selection and digestion by larvae of the pestiferous chironomid Chironomus crassicaudatus under laboratory conditions. Journal of the American Mosquito, v. 20, n. January 2015, p. 458–461, 2004b.

GRIFFITHS, M. et al. Interference by pigment in the estimation of microalgal biomass concentration by optical density. Journal of microbiological methods, v. 85, n. 2, p. 119-123, 2011.

HA, K.; JANG, M.; TAKAMURA, N. Colony formation in planktonic algae induced by zooplankton culture media filtrate. Journal of freshwater ecology, v. 19, n. 1, p. 9-16, 2004.

HERREN, C. M. et al. Positive feedback between chironomids and algae creates net mutualism between benthic primary consumers and producers. Ecology, v. 98, n. 2, p. 447–455, 2017.

MAYELI, S; NANDINI, S.; SARMA S. The efficacy of Scenedesmus morphology as a defense mechanism against grazing by selected species of rotifers and cladocerans. Aquatic Ecology, v. 38, p. 515-524, 2004.

VAN DONK, E.; IANORA, A.; VOS, M. Induced defences in marine and freshwater phytoplankton: A review. Hydrobiologia, v. 668, n. 1, p. 3–19, 2011.

VAN DONK, E.; LÜRLING, M.; LAMPERT, W. Consumer-induced changes in phytoplankton: inducibility, costs, benefits and impact on grazers. Consequences of inducible defences for population biology, November, 1999.