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As formas de resistência dos teleoperadores no município de São Carlos – SP
Paulo César Taliberti Lovo, Aline Suelen Pires

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


Com a reestruturação produtiva do sistema capitalista a partir da década de 1970, rompendo com a gerência de trabalho focada em modelos fordistas, novas formas de trabalho entraram em cena. O período, que compreende o começo dos anos de 1970 - crise do petróleo de 1973 e crise do fordismo - até os dias atuais - que abrange reformas trabalhistas e mudança de discurso sobre o trabalho -, é marcado por um processo de flexibilização, tanto no aspecto do gerenciamento do trabalho, como também dos próprios trabalhos realizados. Essa flexibilização também reconfigurou as mobilizações e lutas coletivas dos trabalhadores. A combinação da reestruturação produtiva pós-década de 1970 com o surgimento e consolidação da revolução informacional, que compreende a utilização em massa da internet comercial, faz com que o trabalho referente ao teleatendimento desponte como uma nova forma de trabalho. Nesse contexto, os teleoperadores compõem uma categoria na qual se encontram contradições entre o uso de novas tecnologias e as antigas formas de gerenciamento do trabalho, assim, a pesquisa teve como objetivo investigar as formas de resistência desses trabalhadores no município de São Carlos - SP, também trazendo à tona questões de como a pandemia de COVID-19 em 2020, no Brasil, interferiu no trabalho desses teleoperadores. O estudo de caso foi realizado com a empresa MAPFRE, foram realizadas entrevistas qualitativas a partir de um roteiro semi-estruturado, com trabalhadores e ex-trabalhadores no setor de teleatendimento. Com a inviabilidade de se realizar mais entrevistas em função da pandemia e suas medidas restritivas, sendo 3 entrevistas insuficientes para uma análise concreta, foram coletados materiais midiáticos e coleta adicional de relatos de trabalhadores em páginas direcionadas aos trabalhadores de teleatendimento e telemarketing da rede social Facebook. Durante a pesquisa, é notável a contradição entre tecnologia e excesso de trabalho, o trabalho não é criativo ou mais autônomo como se espera de trabalhos dentro do escopo das TICs (tecnologias da informação e comunicação), pelo contrário, o trabalho é altamente disciplinado, controlado e repetitivo. Foi constatado também que o teleatendimento é considerado por muitos uma porta de entrada para o mercado de trabalho ou somente como um trabalho temporário, isso explica a grande quantidade de jovens inseridos nessa área, ou seja, não há um desejo para construção de uma carreira na área e a rotatividade de trabalhadores é elevada. A rotatividade de força de trabalho é um dos fatores principais para a ausência do sindicato no dia a dia dos trabalhadores, já que não há possibilidade de construção política a longo prazo. A ação sindical e ações mais disruptivas com o sistema foram notáveis durante o período da pandemia, já que o teleatendimento foi considerado um trabalho essencial e muitos teleoperadores vieram a óbito pelo descaso das empresas - o que não foi constatado em São Carlos. As resistências constatadas são estratégias para amenizar o controle e alta demanda produtiva, é algo ensinado de veteranos para novatos e traz uma sensação de solidariedade no ambiente de trabalho. As micro-resistências existem e foram analisadas como estratégias para se realizar o trabalho, não como resistência política contra a empresa.