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TRADUÇÃO AUDIOVISUAL DA LIBRAS: LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE OBRAS DEPOSITADAS NA CINEMATECA BRASILEIRA
Vinicius Nascimento, Bruna Emiliano

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


Essa pesquisa teve como objetivo fazer um levantamento de obras audiovisuais contempladas pela Agência Nacional do Cinema (ANCINE) com recursos para inserção de recursos de acessibilidade e analisar as formas de apresentação das janelas de Libras. Desde 2014, a agência exige, por meio das Instruções Normativas Nº116/14 e Nº128/16, que as obras audiovisuais por ela financiadas apresentem obrigatoriamente recursos de acessibilidade como Legendagem Descritiva para Surdos e Ensurdecidos, Audiodescrição e Janela de Libras. Entretanto, pouco se sabe sobre as reais condições de inserção desses recursos, em especial da Janela de Libras que é um recurso visual de grande impacto que se sobrepõe à peça audiovisual. Para fazer o levantamento das obras financiadas pela ANCINE, contatou-se a Cinemateca Brasileira por meio do Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão que enviou uma listagem com 2978 projetos contemplados com os recursos públicos destinados à inserção de acessibilidade. Dessas, 558 já haviam sido finalizadas e entregues à Cinemateca sendo que 443 obras contavam com janela de Libras e 115 contavam apenas com os recursos de Legendagem Descritiva e Audiodescrição. A Cinemateca Brasileira informou, entretanto, sobre a impossibilidade de acesso aos materiais que foram entregues por meio do depósito legal, visto que do momento que são depositados nesta modalidade tornam-se propriedade da união e deixam de seguir as regras dos depósitos voluntários sendo possível o acesso apenas ao depositante mediante comprovação de excepcionalidade. Por orientação da própria Cinemateca, contatou-se, por meio de um ofício enviado por e-mail, as 213 produtoras que produziram as 443 obras que contavam com o recurso da janela de Libras. Foram recebidas 28 obras, sendo 12 produções destinadas ao cinema e 15 à exibição televisiva. Destas 28 obras, 2 continham os arquivos da produção audiovisual e da janela de Libras separados, impossibilitando a análise. Por isso, considerou-se, para análise comparativa, 26 obras. Encontrou-se inconsistências na padronização das janelas de Libras das produções audiovisuais analisadas tanto quanto a localização, fundo utilizado, recorte e edição, quanto ao cumprimento ou não das normas propostas pela NBR 15.290/05 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e pelo Ministério da Cultura no Guia para produções audiovisuais acessíveis publicado em 2016. Das 26 obras analisadas, apenas 9 seguiam o tamanho padrão sugerido pela ABNT e nenhuma seguia a proposta do Ministério da Cultura. Entre as variações encontradas nas janelas de Libras estavam diversos posicionamentos na tela, diferentes recortes (janelas redondas e quadradas), edições (janelas com fade-in e fade-out e janelas fixas em tela durante todo período da obra) e diferentes fundos utilizados como o chroma-key, tanto sem edição com o fundo verde, como com a transparência aplicada, fundos brancos opacos e fundos semitransparente. Conclui-se, com isso, que as obras que recebem financiamento público da ANCINE estão inserindo janelas de Libras de forma indiscriminada e sem consulta às orientações técnicas existentes. Além disso, a dificuldade de acesso às obras acessíveis em Libras escancara a incoerência e o descompasso entre a proposição de políticas públicas de acessibilidade e o acesso do público surdo à cultura audiovisual brasileira.


Palavras-chave


Tradução Audiovisual, Língua de Sinais, Janela de Libras, Acessibilidade, Mídias Acessíveis.