Portal de Eventos CoPICT - UFSCar, XXVII CIC e XII CIDTI

Tamanho da fonte: 
AS MULHERES NEGRAS NA CIÊNCIA: A REPRESENTAÇÃO FEMININA E NEGRA NA DOCÊNCIA E PESQUISA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS NA ÁREA DE QUÍMICA
Isabela CUSTÓDIO TALORA BOZZINI, Beatriz Lisboa Pereira

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


Historicamente, na maioria das produções intelectuais a participação e a visibilidade é majoritariamente masculina, o mesmo acontece com a Ciência. Quando a questão racial se une à desigualdade de gênero, os obstáculos se tornam ainda maiores. Após o fim da escravidão, mulheres negras ainda viviam em situações de trabalho escravo, mesmo que assalariadas, isso porque não houve qualquer amparo governamental para que pessoas negras pudessem se estabelecer enquanto cidadãos com direitos básicos. Partindo do pressuposto que mulheres negras, por sofrerem socialmente duas opressões possuem menos oportunidades na área científica, nos interessou saber se há uma desigualdade de raça e gênero entre os docentes da  área de química. Neste contexto, esta pesquisa teve como objetivo levantar o número de mulheres negras que atuam como professoras-pesquisadoras na UFSCar, cuja formação inicial seja Química. A primeira parte da pesquisa foi documental, na qual foi realizado um levantamento quantitativo de gênero e raça entre os professores/pesquisadores formados em química que atuam na UFSCar. A Plataforma Lattes e os sites oficiais dos departamentos da UFSCar foram as principais fontes utilizadas na pesquisa. Ao realizar a análise documental nos deparamos com apenas uma mulher negra na área de química, a qual aceitou fazer parte da pesquisa e foi entrevistada. Do total de 129 docentes com formação em química, 80 são homens (62%) e 49 são mulheres (38%). Quanto à raça e etnia, 120 são brancos, 3 amarelos e apenas 1 negro. Ou seja, as porcentagens dos docentes formados em química que atuam na UFSCar não são proporcionais à população do estado em que a Universidade se localiza, fazendo com que este corpo docente, masculino e majoritariamente branco, não seja representativo. Durante a entrevista, a docente relatou que enfrentou racismo durante sua educação básica, onde alguns professores duvidavam da sua capacidade intelectual ou a colocavam em situações de subordinação. A professora ainda relata que o machismo foi muito presente durante sua trajetória acadêmica, pois frequentemente a inteligência e capacidade das mulheres de atuarem na área das ciências exatas eram colocadas como não boas o suficientes em comparação aos homens. Porém, desde sua infância, ela obteve o apoio e estímulo de familiares e professores para sempre continuar os estudos e entrar na Universidade, sendo essas as ações que mais tiveram impacto na vida da professora. Podemos considerar que a UFSCar possui uma inegável desigualdade de raça e gênero entre seus professores com formação inicial em química. No que tange à raça, a desigualdade é ainda mais evidente, pois professores negros não chegam a representar 1% deste corpo docente. No decorrer das últimas décadas a participação feminina na ciência vem aumentando e políticas públicas como as cotas raciais nas Universidades Federais brasileiras têm auxiliado na inserção de pessoas negras no meio acadêmico, mas ainda há um longo caminho a se percorrer para chegarmos na igualdade de gênero e raça. Além disso, fica evidente o papel da família e de professores para a redução de desigualdades educacionais.

Palavras-chave


mulheres negras na ciências; pesquisadoras na área de química; educação antirracista e feminista