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DARWINISMO SOCIAL EM FAST-FORWARD: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE LITERATURA CYBERPUNK E AMBIENTALISMO
Nicholas Vendramin Ueda, Samira Feldman Marzochi

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


O cyberpunk enquanto subgênero literário de ficção científica foi um movimento próprio da década de 1980 (LEMOS, 2004). Suas narrativas se passam em cenários futuristas onde se fazem presentes a alta tecnologia e o caos urbano (LEMOS, 2004). Quanto à etimologia da palavra, cyber é derivado de cibernética, enquanto punk se deve à inspiração estética proveniente do movimento anarquista da década de 1970 (AMARAL, 2006; ARAÚJO, 2014). Apesar de suas narrativas se passarem no futuro, o cyberpunk retrata de forma exacerbada o cotidiano vivenciado por seus autores. É por isso que seus expoentes dizem que o que eles faziam não era falar do futuro, mas sim parodiar o seu presente (LEMOS, 2001).

Neuromancer, escrita por William Gibson (2016) e publicada em 1984, foi a narrativa que formou e ampliou o imaginário da cibercultura, contribuindo para a popularização do cyberpunk na ficção científica (LEMOS, 2001). Já Androides sonham com ovelhas elétricas?, publicada em 1968, não é uma narrativa cyberpunk, mas é uma das principais obras de autoria de Philip K. Dick (2016), escritor de ficção científica cujas obras influenciaram no surgimento do cyberpunk (AMARAL, 2006). Essa influência se fez presente principalmente após o lançamento de Blade Runner, adaptação cinematográfica de Androides sonham com ovelhas elétricas? que sofreu grande influência da estética cyberpunk (AMARAL, 2006).

Nessas narrativas, para além dos elementos já destacados, é possível constatar a presença de problemas socioambientais. Esses problemas podem passar despercebidos pois não aparecem como foco principal. São tratados como pano de fundo, fazendo parte do cenário onde o enredo se desenvolve. Este estudo, portanto, teve como objetivo analisar o modo como as questões socioambientais aparecem na literatura de ficção científica cyberpunk. Para isso, a partir das narrativas já mencionadas, foram retirados trechos que retratam problemas socioambientais. Posteriormente, os trechos foram classificados em categorias de acordo com a Análise Textual Discursiva elaborada por Roque Moraes (2006).

A partir da análise dos trechos, constatou-se que as narrativas possuem enfoques diferentes, de modo que não foi possível elaborar um único grupo de categorias que fosse aplicável a ambas. Por isso, cada narrativa foi analisada separadamente. Androides sonham com ovelhas elétricas? apresenta problemas socioambientais decorrentes do uso de armas nucleares; esse imaginário é resultante da Segunda Guerra Mundial e revela o medo de um possível holocausto nuclear durante a Guerra Fria (BEST; KELLNER, 2017). Já em Neuromancer, os problemas socioambientais são decorrentes do estilo de vida urbano.

Essa mudança de enfoque também ocorreu no ambientalismo entre os anos de 1960 e 1980. Enquanto em 1960 as preocupações ambientalistas se encontravam principalmente na questão nuclear, na década de 1980 esse enfoque transitou para a questão da urbanização, da poluição e da tecnologia (MCCORMICK, 1992). Portanto, é possível perceber que essas narrativas são fruto de seu tempo, mesmo que se passem em um futuro hipotético que, coincidentemente ou não, possui elementos atuais. A partir deste estudo, pôde-se constatar que a literatura pode atuar como uma importante fonte para se compreender o passado, suas preocupações e suas formas de pensamento.


Palavras-chave


Cyberpunk, Ambientalismo

Referências


AMARAL, Adriana. Visões perigosas: uma arque-genealogia do Cyberpunk: comunicação e cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2006.

ARAÚJO, Luíza Uehara. Reconfigurações e fortalecimentos: a garantia de liberdades individuais na criptografia. In: XXII Encontro Estadual de História, 2014, Santos. Anais do XXII Encontro Estadual de História da ANPUH-SP. São Paulo: ANPUH, 2014. Disponível em: http://www.encontro2014.sp.anpuh.org/site/anaiscomplementares. Acesso em: 02 fev. 2021.

BEST, Steven; KELLNER, Douglas. The Postmodern Adventure: Science Technology, and Cultural Studies at the Third Millennium. In: DICK, Philip Kindred. Androides sonham com ovelhas elétricas?. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2017. p. 308-328.

DICK, Philip Kindred. Androides sonham com ovelhas elétricas?. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2017.

GIBSON, William. Neuromancer. 5. ed. São Paulo: Aleph, 2016.

LEMOS, André. Apropriação, desvio e despesa na cibercultura. Revista FAMECOS, Porto Alegre, v. 8, n. 15, p. 44-56, 2001. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/3119. Acesso em: 02 fev. 2021.

LEMOS, André. Ficção científica cyberpunk: o imaginário da cibercultura. Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 3, n. 6, p. 9-16, 2004. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conexao/article/view/71. Acesso em: 02 fev. 2021.

MCCORMICK, John. Rumo ao Paraíso: a história do movimento ambientalista. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1992.

MORAES, Roque. Uma tempestade de luz: a compreensão possibilitada pela Análise Textual Discursiva. Ciência & Educação, [Bauru], v. 9, n. 2, p. 191-211, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-73132003000200004&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 02 fev. 2021.