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Percepções de estudantes de enfermagem sobre o trabalho do(a) enfermeiro(a) na Estratégia Saúde da Família
Flávio Adriano Borges, Pablo Ramon Rodrigues Freitas Ramos Carloni

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


Introdução: A Atenção Primária à Saúde (APS) representa a principal porta de entrada prevista para o sistema de saúde. Ela se baseia na premissa de promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, execução de cuidados paliativos e estratégias de vigilância em saúde. O Brasil tem adotado a Estratégia Saúde da Família (ESF) como modelo principal de APS, que conta com uma equipe multiprofissional, incluindo o enfermeiro em sua composição. Este se destaca pelo papel no cuidado direto com o usuário, associado às atividades administrativas e burocráticas no processo de trabalho em saúde e enfermagem, correspondendo ao profissional de referência para o cuidado nas diferentes fases da vida. Nesse âmbito, sabe-se da escasses de produções científicas, tratando das percepções de estudantes de enfermagem sobre a atuação do enfermeiro na APS. Alguns estudos desenvolvidos na Austrália e no México sobre esse tema, apontaram para uma formação insuficiente para atuação nessa instância de atenção à saúde, sendo que os estudantes percebem a Enfermagem ainda como um trabalho mais voltado para a área hospitalar. Assim, a satisfação em relação ao curso e a possibilidade de ressignificação da profissão pode influenciar em áreas da vida e diminuir o estresse na formação acadêmica, além de considerarmos que olhar para o processo formativo de estudantes de graduação sob a ótica da Análise Institucional e as percepções acerca da futura profissão seja capaz de desencadear um processo reflexivo e formativo, além de gerar pistas ao processo de formação para atuação nessa instância de atenção à saúde. Objetivo:Compreender as percepções de estudantes de enfermagem sobre o trabalho do enfermeiro na ESF. Metodologia: pesquisa qualitativa desenvolvida com 19 estudantes de diferentes anos de graduação em enfermagem da Universidade Federal de São Carlos. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e analisadas por análise temática, confrontando com alguns conceitos do referencial teórico e metodológico da Análise Institucional, tais como instituição (dimensão imaterial relacionada com regras e normas construídas e estabelecidas socialmente), instituído (aquilo que é visível e aparente da instituição), instituinte (aquilo que provoca, movimenta e desloca o instituído), institucionalização (a relação dialética entre o instituído e o instituinte) e analisador (aquilo que revela a instituição, fazendo-a falar). Resultados: A análise dos dados deu origem a três temas: 1) Percepções dos estudantes sobre o processo de trabalho do enfermeiro, 2) O vínculo no trabalho do enfermeiro e 3) Limites estruturais e relacionais do trabalho do enfermeiro. Os estudantes perceberam o trabalho do enfermeiro na ESF como algo em constante processo de institucionalização, ou seja, em um contínuo processo de decomposição e recomposição. Também compreenderam a necessidade de algumas habilidades para o trabalho na APS como a formação de vínculo com os usuários, o (re)conhecimento do território, bem como essa instância como promotora de um modelo tecnoassistencial diferenciado e em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. Conclusão: A atuação do(a) enfermeiro(a) nessa instância enfrenta alguns percalços como, a escassez de recursos materiais, humanos e de infraestrutura, além da dificuldade no desenvolvimento do trabalho em equipe.


Palavras-chave


Enfermagem, Enfermagem de Atenção Primária, Estudante de Enfermagem, Estratégia Saúde da Família

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