Última alteração: 2021-02-25
Resumo
Introdução: Os exames de gasometria são fundamentais para diagnóstico de alterações do equilíbrio ácido-base. Além de avaliar a concentração de gases, alguns equipamentos de gasometria avaliam também a concentração de íons no sangue. Entretanto, essa análise é idealmente realizada por analisadores bioquímicos específicos, que mensuram a quantidade desses íons no plasma. A avaliação adequada desses parâmetros é fundamental para a definição de condutas terapêuticas na Unidade de Emergência(UE). Objetivo: Traçar um perfil epidemiológico dos pacientes atendidos na UE de um Hospital Universitário(HU); avaliar a qualidade do preenchimento das requisições das gasometrias; correlacionar as hipóteses diagnósticas(HD) com os resultados das gasometrias e comparar as dosagens de eletrólitos no sangue total com as do plasma. Metodologia: Aprovação do projeto no CEP/UFSCar(nº 21257419.2.0000.5504). Levantamento das requisições e resultados de exames de gasometria (Radiometer®) e eletrólitos (Radiometer® e Beckman-AU680®), coletados simultaneamente, entre 09/2018 e 11/2019. Os dados categóricos foram resumidos em frequências absolutas e porcentagem, numéricos em média±DP. A comparação dos eletrólitos foi realizada pelo teste t pareado. Para análise de correlação, utilizou-se o coeficiente de Pearson. Análise estatística, programa SPSS24 (IBM). Adotado p-valor< 0,05.
Resultado: Avaliadas 857 gasometrias, 614(71,6%) arteriais e 243(28,4%) venosas, além de 513 bioquímicos no plasma (393 arteriais/118 venosos). Do total de gasometrias, 709(82,7%) foram solicitadas na Emergência adulto, e 148(17,3%) na pediátrica, 402(46,9%) pacientes eram do sexo feminino e 455 (53,1%) masculino. A média de idade dos pacientes foi 51±35 anos. A maioria dos pacientes não apresentou alterações na gasometria (565-65,9%). Não foram preenchidas as HD de 251 requisições e nesses casos a alteração mais frequente foi alcalose respiratória, 13,15%. Nos 298 casos com HD de patologias do sistema respiratório(263)/cardiovascular(35), a alteração mais frequente foi alcalose respiratória, 15,2% e 22,9%, respectivamente. Nos 158 casos com HD de distúrbio metabólico, a alteração mais frequente foi acidose metabólica (32,3%). Os valores de sódio e potássio foram significativamente diferentes (p<0.0001). Os valores de sódio foram superestimados e os valores de potássio subestimados em relação ao plasmático. Todos os valores obtidos pelo aparelho de gasometria apresentaram correlações fisiológicas esperadas: lactato e pH (r=-,311, p=0,0001), lactato e glicemia (r=,128,p=0,0001), lactato e bicarbonato (r=-,332,p=0,0001), sódio e glicemia (r=-,181,p=0,0001). Correlação entre Na+ e K+ no gasômetro e analisador bioquímico, respectivamente: r=-0,108, p=0,002; r=-0,136, p=0,002. Diagnósticos de hipo/hipernatremia ou hipo/hipercalemia que foram modificados pelo exame bioquímico: 39,25% e 42,41%, respectivamente (gasometria arterial) e 30,50% e 29,75%, respectivamente, (gasometria venosa). 82,42% dos pacientes apresentavam hiperglicemia, na gasometria 66,50% sem alterações; 5,4% acidose respiratória; 15,1% alcalose respiratória; 10,9% acidose metabólica e 2,2% alcalose metabólica.
Conclusões: Não houve equivalência na dosagem de eletrólitos entre os equipamentos, questionando-se o uso do equipamento de gasometria para esse fim. Ocorreu melhora significativa no preenchimento das requisições após 04/2019, provável reflexo da implantação de sistema informatizado que não permite seguir o preenchimento da requisição sem a HD. Quanto às HD, percebeu-se maior frequência daquelas relacionadas ao sistema respiratório e metabólico. A maior parte das gasometrias não apresentou alterações. A hiperglicemia representa uma indicação importante para a solicitação de gasometria.Palavras-chave
Referências
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