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A TERAPIA OCUPACIONAL E O COTIDIANO DE PESSOAS QUE FAZEM USO PROBLEMÁTICO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
Ana Luisa de Moraes Sombini, Paula de Fátima Oliveira Faria, Isabela Aparecida de Oliveira Lussi

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


A literatura aponta que o uso de substâncias psicoativas é socialmente condenado, o paradigma proibicionista gera a exclusão social de indivíduos e a ação punitivista a todos que estejam envolvidos na cadeia de produção, venda e consumo. No Brasil, o cuidado em saúde a pessoas que usam drogas ocorre por meio da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), colocando o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS ad) em um papel central na atenção proporcionada a esta população. A Terapia Ocupacional é uma profissão que direciona suas ações ao cotidiano das pessoas, promovendo inserção social e autonomia por meio de atividades significativas. O conceito de cotidiano, possibilita articular o particular e o coletivo, ou seja, como se constitui a vida de um sujeito numa sociedade. As políticas públicas, principalmente as que sustentam o cuidado à população em uso problemático de álcool e outras drogas, podem representar uma visão macro do cotidiano, já que as ideologias instauradas na sociedade e o sistema de saúde influenciam as formas dos sujeitos viverem. O estudo do cotidiano, na terapia ocupacional, de certa forma constitui-se num experimento de atualização terminológica, sendo incorporado para descrever as várias dimensões que compõem a vida e que estão relacionadas à participação nas relações sociais inseridas em um determinado contexto e momento histórico. O objetivo desta pesquisa foi investigar a atuação de terapeutas ocupacionais em CAPS ad com pessoas que fazem uso problemático de álcool e outras drogas focalizando o cotidiano. Trata-se de pesquisa de abordagem qualitativa que utilizou questionário semiestruturado online para a coleta de dados. Nos bancos de dados acessados foi possível identificar 88 CAPS ad no estado de São Paulo, incluindo interior, litoral e capital. Foram contatados 79 serviços, pois 9 tinham cadastro no CNES, mas não havia telefone para contato, sendo que em 21 destes não conseguimos obter sucesso após 3 tentativas em dias e horários diferentes. Dos 58 restantes, 12 CAPS ad não tinham terapeuta ocupacional na equipe e 15 requisitaram permissão institucional específica de sua localidade para participação, o que não foi possível devido à falta de tempo hábil para tal. Dessa forma, o total de serviços contatados que contavam com terapeuta ocupacional na equipe foi 31 serviços. Nestes, foi possível contabilizar 37 profissionais de terapia ocupacional, que foram contatados. Destes, 25 não responderam o questionário no prazo estipulado. Assim, participaram do estudo 12 terapeutas ocupacionais atuantes em CAPS ad no estado de São Paulo. Os dados provenientes das questões fechadas foram analisados descritivamente, enquanto aqueles oriundos das questões abertas foram submetidos à análise temática. Os resultados da pesquisa evidenciaram que todos os profissionais participantes se utilizam do conceito de cotidiano na prática profissional. As ações dos terapeutas ocupacionais voltadas ao cotidiano das pessoas que fazem uso problemático de álcool e outras drogas relacionam o cotidiano a este uso, a forma como ele se dá nos diferentes espaços do território físico e subjetivo, a exclusão social, a solitude e os prazeres experienciados. Os resultados corroboram os achados da literatura da área ao explicitar que os terapeutas ocupacionais compreendem que o cuidado a esta população necessita identificar as alterações do cotidiano, ou seja, as atividades que não são mais realizadas, ou que poderiam passar por ressignificações e, por meio da intervenção no cotidiano, o profissional pode compreender as transformações ocorridas com a pessoa, e os novos caminhos para construção de subjetividade, dando continuidade a sua vida cotidiana, e consequentemente, a sua história de vida.


Palavras-chave


saúde mental, terapia ocupacional, cotidiano, drogas, usuários de substâncias psicoativas

Referências


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