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Atuação do fisioterapeuta no tratamento da dismenorreia primária: revisão da literatura
Mariana Arias Avila Vera, Ana Luiza de Arruda Camargo

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


Introdução

A Dismenorreia Primária (DP) é uma condição ginecológica comum entre mulheres na idade reprodutiva, caracterizada por cólicas na região inferior do abdômen antes ou durante o período menstrual na ausência de patologia pélvica1. A explicação mais aceita para sua ocorrência é a produção excessiva de prostaglandinas, considerando sua liberação responsável pelo aumento da contratilidade uterina, reduzindo o fluxo sanguíneo do útero, gerando dor2.

Sua prevalência é de difícil determinação devido às suas diferentes definições e a falta de métodos padrão para avaliar sua gravidade. Assim, as estimativas de prevalência variam entre 45-95% das mulheres menstruadas1,3,4 com DP muito grave, representando 10-25% das mulheres em idade reprodutiva2,5,6,7. Apesar de sua ocorrência ser considerada comum, a DP é altamente subestimada. Poucas mulheres acometidas por esta desordem ginecológica procuram tratamento, pois consideram os sinais e sintomas condições normais do ciclo menstrual8.

Os anti-inflamatórios não esteroides9 e os contraceptivos hormonais10 são os métodos farmacológicos mais utilizados para seu tratamento, porém, sua utilização pode gerar efeitos adversos, como úlceras gástricas e risco de tromboembolismo venoso11. Assim, alternativas não farmacológicas também são propostas, como TENS, massagem, laser, ultrassom terapêutico, atividade física, alongamento, exercícios aeróbicos, termoterapia, ondas curtas e acupuntura.

 

Objetivos

O principal objetivo é verificar opções de tratamento não farmacológico com embasamento científico na literatura, e o papel do fisioterapeuta no manejo dos sinais e sintomas da DP.

Metodologia

Trata-se de uma revisão bibliográfica, cuja busca ocorreu nas bases de dados eletrônicos Scielo e Pubmed. Os descritores empregados foram: primary dysmenorrhea, physiotherapy, transcutaneous electric nerve stimulation, motor activity, ultrasonic therapy, muscle stretching exercises, massage, short-wave therapy, acupuncture therapy, laser therapy, diathermy e pain management.

Foram incluídos artigos escritos em português ou inglês, com texto completo, publicados a partir de 2015 e que abordassem o papel do fisioterapeuta no tratamento da DP e/ou o uso de tratamento não farmacológico. Foram excluídos artigos cujo objetivo fosse o tratamento farmacológico da DP, estudos abordando Dismenorreia Secundária e estudos com animais.

Ao final do processo de seleção dos artigos, 11 foram escolhidos e analisados entre os meses de junho/agosto de 2020.

 

Resultados e Discussão

Foi possível identificar inúmeros estudos relacionados a DP, mostrando ser um assunto de grande importância. Suas consequências são um alto índice de absenteísmo na vida profissional, acadêmica e social, sendo recorrente a busca por alternativas farmacológicas buscando o alívio da dor.

Dentre as opções de tratamento não-farmacológico, temos evidências moderadas de que a Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea tem efeitos benéficos, podendo ser utilizada nos períodos em que a dor se manifesta de maneira mais intensa; outro recurso, embora não tenha um nível de evidência tão alto, é a utilização de calor superficial (bolsas térmicas, compressas quentes) que. embora seja muito popularmente utilizado, as evidências não são tão robustas. Outro recurso que pode ser utilizado em um manejo a longo prazo é o exercício físico, que também mostra evidências moderadas de efeitos sobre a dor na DP. Em vista destas evidências, mostrou-se que o fisioterapeuta tem possibilidade de atuação imediata no alívio da dor (por meio da aplicação da Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea, utilizando os parâmetros adequados para esta estimulação) bem como a longo prazo, indicando exercícios terapêuticos que podem trazer alívio da dor a longo prazo.

Conclusões

Embora ainda haja necessidade de estudos de maior qualidade metodológica, a presente revisão mostrou evidência de alternativas não-farmacológicas para o alívio da dor (Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea, Calor Superficial e Exercícios Terapêuticos), evidenciando o papel do fisioterapeuta na avaliação e manejo dos sinais e sintomas da DP.


Referências


1) Jamieson DJ, Steege JF. The prevalence of dysmenorrhea, dyspareunia, pelvic pain, and irritable bowel syndrome in primary care practices. Obstet Gynecol. 1996;87(1):55–58.

2) Dawood MY. Dysmenorrhea and prostaglandins. In: Gold JJ, Josimovich JB (eds). Gynecologic Endocrinology. New York: Plenum Publishing Corporation, 1987, 405 –421.

3) Proctor M, Farquhar C. Diagnosis and management of dysmenorrhoea. BMJ 2006; 332:1134 – 1138.

4) Unsal A, Ayranci U, Tozun M, Arslan G, Calik E. Prevalence of dysmenorrhea and its effect on quality of life among a group of female university students. Ups J Med Sci 2010; 115:138– 145.

5) Andersch B, Milsom I. An epidemiologic study of young women with dysmenorrhea. Am J Obstet Gynecol 1982; 144:655– 660.

6) Sundell G, Milsom I, Andersch B. Factors influencing the prevalence and severity of dysmenorrhoea in young women. Br J Obstet Gynaecol 1990; 97:588 –594.

7) Hofmeyr GJ. Dysmenorrhoea. In: Bassin J (ed). Topics in Obstetrics and Gynecology. Johannesburg: Julmar Communications, 1996, 269 – 274.

8) Wong LP. Attitudes towards dysmenorrhoea, impact and treatment seeking among adolescent girls: a rural school-based survey. Aust J Rural Health 2010; 19:218– 223.

9) Marjoribanks J, Proctor ML, Farquhar C. Nonsteroidal anti-inflammatory drugs for primary dysmenorrhoea. Cochrane Database Syst Rev 2003; CD001751.

10) Proctor ML, Roberts H, Farquhar CM. Combined oral contraceptive pill (OCP) as treatment for primary dysmenorrhoea. Cochrane Database Syst Rev 2001; CD002120.

11) MANZOLI L, et al. Oral contraceptives and venous thromboembolism: a systematic review and meta-analysis. Drug Saf 2012; 35:191– 205.

12) CORRÊA, Daniele Aparecida Silva, et al. "Fatores associados ao uso contraindicado de contraceptivos orais no Brasil." Revista de Saúde Pública 51 (2017): 1.

13) ORTIZ, Mario I. et al. Effect of a physiotherapy program in women with primary dysmenorrhea. European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology, v. 194, p. 24-29, 2015.

14) BAZARGANIPOUR, Fatemeh, et al. "A randomized controlled clinical trial evaluating quality of life when using a simple acupressure protocol in women with primary dysmenorrhea." Complementary Therapies in Medicine 34 (2017): 10-15.