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Desenvolvimento larval em colônias de abelhas sem ferrão expostas a fungicidas com a introdução de uma linhagem de fungo resistente
Renato Nallin Montagnolli, Guilherme do Amaral Reis Pinto, Roberta Cornélio Ferreira Nocelli

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


Introdução

Abelhas sem ferrão, assim como outros insetos, contam com interações simbióticas entre microrganismos como bactérias e fungos. Foi descoberto, em colmeias de Scaptotrigona depilis, um fungo do gênero Zygosaccharomyces, responsável por fornecer hormônios necessários para a metamorfose durante o desenvolvimento larval. Ademais, foi identificada uma comunidade microbiana que regula o crescimento do micélio no interior das células de cria.

A existência de interações obrigatórias envolvendo os fungos torna mais grave a ameaça do emprego de fungicidas em culturas agrícolas visitadas por abelhas, considerando que elas constituem um dos principais grupos de polinizadores e oferecem serviços ecossistêmicos essenciais. O estudo dos efeitos desses agrotóxicos nos microrganismos presentes nas colmeias e, consequentemente, no desenvolvimento das abelhas é importante para a redução do impacto em diversos ecossistemas.

 

Objetivo

Introduzir uma linhagem de fungo resistente ao tebuconazol em uma colmeia de abelhas da espécie Scaptotrigona postica para garantir o desenvolvimento larval em colmeias expostas ao fungicida.

 

Metodologia

Foram utilizadas colmeias de Scaptotrigona postica de um meliponário experimental, mantidas em caixas para criação de abelhas sem ferrão, das quais foram extraídos os favos de cria para isolamento dos microrganismos. Foi utilizado predominantemente um meio de cultura com base em Ágar Sabouraud (SDA) modificado pela adição de alimento larval proveniente da colmeia.

A extração dos fungos foi realizada mediante os métodos de raspagem do micélio com auxílio de uma agulha de inoculação e adição dos favos de cria à solução salina em agitação orbital para liberação do fungo. Os fungos foram inoculados em placas de Petri utilizando as técnicas de semeadura em espalhamento e semeadura em esgotamento, a fim de obter colônias individuais.

Para obtenção de uma linhagem resistente, o fungo foi inoculado no meio SDA modificado contendo diferentes concentrações de tebuconazol ajustadas por diluição seriada. Foram aplicados intervalos de concentrações ao longo das gerações cultivadas com objetivo de aproximar-se ao valor utilizado em campo.

 

Resultados

O cultivo dos microrganismos foi bem-sucedido no meio SDA modificado pela adição de alimento larval, sendo que o método de liberação em solução salina apresentou maior sucesso. Foram obtidas diferentes morfologias, incluindo fungos filamentosos de coloração vermelha e branca, além de culturas similares à bactérias e leveduras. Foi cultivado um fungo com morfologia correspondente à encontrada nas células de cria, utilizado posteriormente na obtenção de linhagem resistente.

Nos ensaios de tratamento com tebuconazol, a inibição do crescimento fúngico evidenciada pelo diâmetro das colônias em um determinado tempo foi proporcional aos crescentes valores de concentração de fungicida aplicados. Foi possível cultivar linhagens gradativamente mais resistentes ao fungicida, inclusive em valores próximos ao de campo.

 

Conclusões

É possível cultivar diferentes microrganismos oriundos dos ninhos de Scaptotrigona postica, sobretudo em meio SDA modificado pela adição de alimento larval, bem como obter linhagens fúngicas resistentes ao tebuconazol por meio do cultivo de gerações em concentrações progressivamente maiores do fungicida.