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Morfologia funcional dos órgãos da cavidade do manto de Anodontites trapesialis (Lamarck, 1819) (Bivalvia, Mycetopodidae)
Izabel Carolina Carriel Boni, Eliane Pintor Arruda

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


O molusco bivalve Anodontites trapesialis (Lamarck, 1819) é um excelente filtrador e, portanto, ótimo bioindicador da qualidade ambiental, o que torna o entendimento de suas estruturas da cavidade do manto essencial. O objetivo desse trabalho foi estudar a anatomia funcional dessa espécie, visando ampliar a utilização do bivalve em estudos de conservação aquática, bem como auxiliar em sua conservação. Essa espécie tem sido extensivamente estudada, porém análises preliminares realizadas pelo grupo de estudo em macroinvertebrados bentônicos da UFSCar, campus Sorocaba demonstraram que algumas particularidades da cavidade palial ainda não haviam sido descritas. Para o estudo da morfologia e anatomia funcional de A. trapesialis foram dissecados 7 exemplares e partículas de Carborundum foram inseridas na cavidade do manto. As correntes ciliares observadas nos ctenídios e nos palpos labiais foram comparadas a descrição realizada por Hebling (1976). A anatomia desses animais foi comparada com exemplares preservados em álcool e depositados no MZUSP. Os ctenídios são eulamelibrânquios com pregas largas e filamentos iguais. As correntes ciliares variaram de acordo com a região do ctenídio e algumas diferenças entre o que está descrito na literatura pode ser observado. Na lamela ascendente da demibrânquia interna foi observada que as partículas podem seguir dois caminhos: podem ser encaminhadas para a corrente oral no sulco marginal da demibrânquia interna, desde que as partículas sejam capturadas na região mediana na lamela; ou as partículas que caem na região mediana dorsal são levadas para a região dorsal do ctenídio e para a corrente de rejeição do manto. Um sulco na margem ventral da demibrânquia externa, nunca descrito na literatura para a espécie, também foi observado. Esse sulco é raso, comparado com o sulco oral da demibrânquia interna, conta com pouca profundidade e não possui corrente, mas auxilia na captura de partículas que escapam do sulco oral da demibrânquia interna, devido ao excesso de partículas e da força da corrente de água. Uma membrana alimentar entre as demibrânquias estava presente todos os animais dissecados. Essa membrana auxilia na formação de um canal alimentar, recobrindo-o e protegendo as partículas armazenadas que serão direcionadas para os palpos labiais. As correntes já descritas por Hebling (1976) para os palpos labiais também foram observadas no presente trabalho. Os espécimes preservados em álcool apresentaram grande divergência em tamanho, cor e formato da concha, mas com morfologia semelhante, incluindo a presença da membrana alimentar ainda não descrita. As conchas desses animais variam muito de acordo com o local em que elas se encontram. É necessário maior levantamento de dados tanto na natureza quanto em museus.


Palavras-chave


Mollusca, Mycetipodidae, anatomia, cavidade do manto, demibrânquias

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