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A cultura organizacional de Instituições de Longa Permanência para Idosos intensifica a perpetuação de estereótipos negativos sobre a velhice?
Ana Luiza Blanco, Celeste José Zanon

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


A cultura organizacional é um elemento que condiciona os hábitos, as crenças e os valores dentro de uma organização, formando uma maneira institucionalizada de pensar e agir. Os traços culturais são capazes de moldar os sujeitos e, consequentemente, difundir determinadas representações sociais. Tendo em vista a crescente demanda por cuidados institucionais e a predominância de imagens estigmatizadas sobre a velhice em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), este estudo objetivou analisar como os traços culturais das ILPIs podem intensificar a reprodução de estereótipos sobre a velhice, a partir da visão dos residentes e da equipe destas instituições. Para tal, foi adotada uma abordagem qualitativa, de caráter exploratório, do tipo estudo de casos, com a finalidade de captar de maneira aprofundada a compreensão dessa realidade. A pesquisa, aprovada pelo Comitê de Ética (CAAE: 07071319.0.0000.5504), foi desenvolvida em duas ILPIs de um município do Estado de São Paulo. Participaram do estudo 36 pessoas, sendo 8 funcionários e 3 residentes de uma instituição privada e 25 funcionários de uma instituição filantrópica. A coleta de dados considerou as seguintes medidas de avaliação: um Diário de Campo e um Protocolo de Estudo de Caso, composto por uma entrevista aberta com roteiro semi-estruturado. Após a transcrição das entrevistas, foi feita uma análise de conteúdo dos registros, elaborando-se categorizações através do software Atlas-ti. Os resultados demonstraram que os principais traços da cultura organizacional das instituições foram a ênfase no cuidado físico; ser altamente organizada e orientada por regras, com uma rotina de horários pré-determinados para todas as atividades; necessidade dos residentes se adequarem às exigências institucionais; hierarquização; alta aversão à incerteza e restrição. Essa configuração organizacional parece reforçar estereótipos negativos da velhice, tais como dependência, improdutividade, incapacidade, incompetência cognitiva, infantilização, solidão, tristeza, privação de liberdade, baixa autonomia e perda de um propósito de vida. Os estereótipos mostraram estar disseminados nas práticas cotidianas e em diferentes traços da cultura da instituição. Nesse sentido, acredita-se que as ILPIs precisam trabalhar ao nível simbólico a noção de idoso, reestruturando os traços culturais que mais fortalecem as visões estereotipadas da velhice, uma vez que aspectos que afetem a qualidade de vida dos residentes e a gestão da instituição merecem ser explorados.


Palavras-chave


Estereotipias; Cultura Organizacional; Instituição de Longa Permanência para Idosos; Velhice

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