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Os estereótipos culturais e os impactos na relação das crianças com a Ciência: um olhar para a questão de gênero
Carolina Rodrigues Souza, João Paulo Ramos

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


Introdução

O presente trabalho consiste em um ensaio teórico em desenvolvimento, que discute a questão dos estereótipos da área de ciências e tecnologias(C&T) e como isso se faz presente na questão de gênero dentro da educação infantil, objetivando entender os elementos necessários para pensar e desenvolver atividades que dialoguem com essa questão, de forma a compreender a lógica infantil e potencializá-la para alcançar os objetivos propostos.

Metodologia

Devido ao atual contexto de pandemia, a pesquisa sofreu alterações metodológicas. A princípio, ela visava propor estratégias metodológicas que iluminassem evidências sobre as possíveis representações sociais da ciência no contexto da formação da criança e as questões de gênero, agora se configura numa pesquisa qualitativa, de cunho teórico.

Realizamos uma revisão bibliográfica para conhecimento do campo das pesquisas sobre: 1. gênero e infância. 2. gênero e C&T e 3. Gênero, C&T e infância/criança.

Desses estudos, surgiram novas problematizações sobre a temática e propostas de possíveis caminhos para o diálogo com as questões em debate. Novas questões também foram levantadas nesse percurso, buscando evidências que possam responde-las, atualmente estamos estudando sobre a formação de esteriótipos e suas interações na infância

Resultados e Conclusões

Dos estudos realizados, um fator que nos chama a atenção é pensar no esvaziamento da ideia de estereótipos quando inserido na forma de ser no universo infantil. Elas transgridem as regras o tempo todo. Foucault (1977), se pergunta se infância não constituiria justamente a liberdade de não ser adulto, de independer da lei e de poder estabelecer relações polimorfas com as coisas, pessoas e corpos

Crianças brincam com o que lhes são impostos, mas vão além. Elas buscam outros sentidos e possibilidades, "ressignificam" a cultura na qual estão inseridos e demonstram formas singulares de relacionar-se com o mundo. Dessa forma, o que seria estereótipo de gênero na infância? Faz sentido pensar que corpos masculinos infantis são mais propensos na relação com a cultura científica? Quem determina tal "propensão"?

Sabemos que há produção de cultura e corpos em uma sociedade em que historicamente, grande parte das mulheres se ocupa das funções relacionadas aos cuidados e homens, das carreiras C&T. A falta de problematização e pesquisa desses estereótipos, faz vazar para a educação infantil formas de ser e estar no mundo. O esforço teórico para compreender o campo nos revela que são forças biopolíticas. Mapear essas forças binárias, que se constituem pelo masculino e feminino, mas tem braços na ciência marcado pela racionalidade em oposição ao emotivo, pode ser fonte de pistas para o debate dos estereótipos de gênero nas C&T, já que esses não nascem com as crianças. Aliás, elas tentam o tempo todo fugir das classificações e regras que possam limitar suas múltiplas formas de existência.

No entanto, vivemos em uma sociedade em que as possibilidades de rompimento das fronteiras de gênero são associadas ao campo da patologia, da anormalidade.

Segundo Souza (2020), a infância carrega a possibilidade de mudança, do mundo ser outra coisa. Aqui compartilhamos do esforço posto por Deleuze e Guattari, que concebem “a ideia de um adulto modulado pela criança, a ideia de que o homem precisa do devir criança para conseguir desfazer os modelos consensuais anteriores ao seu próprio pensamento (SHÉRER, 2012).



Palavras-chave


Gênero - Ciências Exatas - Infância

Referências


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