Portal de Eventos CoPICT - UFSCar, XXVII CIC e XII CIDTI

Tamanho da fonte: 
Avaliação do papel da neurotransmissão de ocitocina na modulação da ansiedade induzida em camundongos pelo modelo de empatia para dor
Gustavo Diego Magno, Isabela Miranda Carmona, Paulo Eduardo Carneiro de Oliveira, AZAIR CANTO-DE-SOUZA

Última alteração: 2021-02-25

Resumo


Introdução: A empatia é um importante fenômeno interpessoal que permite compreender e experimentar emoções que o outro está sentindo. Demonstramos que o convívio de camundongos com o parceiro com dor neuropática, aumenta a resposta nociceptiva e os índices de ansiedade em camundongos observadores expostos ao labirinto em cruz elevado (LCE). A ocitocina aumenta comportamentos pró-sociais e diminui a ansiedade em roedores induzidos ao autismo, e promove analgesia em roedores submetidos a dor crônica. Observamos que os níveis plasmáticos de ocitocina estão aumentados no parceiro submetido ao convívio com um coespecífico submetido a nocicepção.

Objetivo: Investigar se a atosibana, antagonista de receptores de ocitocina, interfere na modulação da ansiedade induzida em camundongos pelo convívio com coespecífico submetido a dor crônica.

Metodologia: Camundongos Suíço-albinos machos com 21 dias de vida foram separados em pares (n=8-11) durante um protocolo de convivência de 28 dias (CEUA Nº 9094160919). Após os primeiros 14 dias de convívio, um dos animais da dupla foi submetido a cirurgia de constrição do nervo ciático (NC) ou sem constrição do nervo ciático (Sham). No 28° dia, o animal que conviveu com seu coespecífico NC (CNC) ou Sham (CS), recebeu injeção de salina ou atosibana [0,25, 0,5 e 1,0 mg/kg, intraperitoneal (i.p.)], e após 30 minutos, foi submetido ao teste no LCE para avaliação dos comportamentos [porcentagem de entrada (%EBA) e tempo gasto nos braços abertos (%TBA), entrada nos braços fechados (EBF), porcentagem de tempo gasto no centro do LCE (%TC), total de esticar (TSAP), porcentagem esticar protegido (%SAP), total de mergulhos (TMerg), porcentagem de mergulhos protegidos (%MergP) e total de levantar (tLev)], por cinco minutos. Para confirmar o convívio com o animal com nocicepção, no 29º dia foi realizado o teste de placa quente nos grupos (NC e Sham).

Resultados: Os animais NC apresentaram diminuição da latência de retirada da pata traseira ao estímulo térmico, comparados aos animais Sham [t(49) = 5,78, p < 0,001]. O convívio com o NC diminuiu a %EBA e %TBA, enquanto aumentou a %SAP e %MergP, sem alterar (EBF, TSAP, TMerg e TLev), nos camundongos CNC avaliados no LCE (p < 0,05, ANOVA). As três doses de atosibana diminuíram a %EBA e %TBA, e aumentaram %SAP, %MergP, sem alterar (EBF, TSAP e TMerg), nos CS, comparados a salina (p < 0,05, ANOVA). As injeções de atosibana (0,25 e 0,5 mg/Kg) não interferiram com os comportamentos avaliados no LCE, exceto 1,0 mg/Kg que diminuiu o TLev nos CNC, comparados a salina.

Conclusões: A constrição do nervo ciático produziu hipernocicepção, e o convívio com a nocicepção produziu aumento de ansiedade nos camundongos CNC submetidos ao LCE, conforme demonstramos anteriormente. O tratamento sistêmico com as três doses de atosibana, aumentou a ansiedade nos camundongos que conviveram com coespecíficos sem nocicepção (Sham), entretanto não alterou os comportamentos do tipo ansiogênicos em camundongos que conviveram com coespecíficos constritos. Este estudo contribui para demonstrar o envolvimento da neurotransmissão ocitocinérgica na modulação da resposta emocional induzida pelo convívio com o coespecífico com e sem dor neuropática em camundongos.


Palavras-chave


empatia; ocitocina, atosibana; ansiedade, camundongos

Referências


BAPTISTA-DE-SOUZA, D. et al. Mice undergoing neuropathic pain induce anxiogenic-like effects and hypernociception in cagemates. Behavioural Pharmacology, v. 26, p. 664–672, 2015.

KURAISHI, Y., HARADA, Y., ARATANI, S., SATOH, M., TAKAGI, H. Separate involvement of the spinal noradrenergic and serotonergic systems in morphine analgesia: the differences in mechanical and thermal algesic tests. Brain res, v. 273, n. 2, p. 245-252, 1983.

LANGFORD, D. J. et al. Social modulation of pain as evidence for empathy in mice. Science, v. 312, n. 5782, p. 1967–1970, 2006.

PARENT, A. J. et al. Increased anxiety-like behaviors in rats experiencing chronic inflammatory pain. Behavioural Brain Research, v. 229, n. 1, p. 160–167, 2012.

PRESTON, S. D.; DE WAAL, F. B. M. The Communication of Emotions and the Possibility of Empathy in Animals. In: Altruism and Altruistic LoveScience, Philosophy, and Religion in Dialogue. [s.l.] Oxford University Press, 2002. p. 284–308.

RING, R. H. et al. Anxiolytic-like activity of oxytocin in male mice: Behavioral and autonomic evidence, therapeutic implications. Psychopharmacology, v. 185, n. 2, p. 218–225, 2006.

SINGER, T. et al. Empathy for Pain Involves the Affective but not Sensory Components of Pain. Science, v. 303, n. 5661, p. 1157–1162, 2004.

SRINIVASAN, M. V et al. Social Modulation of Pain as Evidence for Empathy in Mice. Science, n. June, p. 1967–1970, 2006.

TENG, B. L. et al. Prosocial effects of oxytocin in two mouse models of autism spectrum disorders. Neuropharmacology, v. 72, n. 3, p. 187–196, set. 2013.

ZANIBONI, C. R. et al. Empathy for Pain: Insula Inactivation and Systemic Treatment with Midazolam Reverses the Hyperalgesia Induced by Cohabitation With a Pair in Chronic Pain Condition. Frontiers in Behavioral Neuroscience, v. 12, n. November, p. 1–10, 2018.