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A ESCRITA DE CARTAS NO PROCESSO (DES)FORMATIVO DE PROFESSORES CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - UMA EXPERIÊNCIA EM TEMPOS DE PANDEMIA
Gabriela de Oliveira Branco, Carolina Rodrigues Souza

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


  1. Introdução e Objetivos:

O objetivo do presente trabalho se dá em problematizar o uso de narrativas (auto)biográfica, mais especificamente do gênero de Cartas, nos processos formativos de professores de Ciências Biológicas, em tempos de pandemia.

Nóvoa, (2014) em "Cartas a um jovem investigador”, escreve sobre o gênero cartas:

 

O gênero epistolar pertence a um tempo que já não é o nosso, porque uma carta fixa a memória do que se diz. E hoje não se diz nada e apenas se fala, que é coisa de se cumprir e esquecer”. Numa carta, o que interessa é a relação, este diálogo em que conversamos conosco quando nos dirigimos ao outro, ainda que seja um outro imaginário. Esta é a forma mais concreta de diálogo que não anula inteiramente o monólogo”. Uma carta permite maiores liberdades do que outros.

A escrita de cartas permite um convite ao diálogo e a escuta, sendo evidenciado não somente a escuta do outro e pelo o outro, mas de si próprio, quebrando barreiras e permitindo o contato com experiências passadas, sentimentos, percepções e afetividades daquele que escreve com relação a sua própria trajetória. Silva (2018) discute que durante o processo da escrita autobiográfica se ultrapassa a relação entre primeira e terceira pessoa, a autobiografia é uma construção de conhecimento do sujeito, não apenas do leitor para com o autor, mas também do próprio autor. A escolha das cartas foi uma possibilidade do encontro do futuro professor com os professores já ativos, da graduação e do ensino regular. Em tempos de aprofundamento social e sensibilidade, as cartas aproximam e trazem sentido.

2. Metodologia:

Aos estudantes de um curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, na disciplina de Orientação de Estágio Supervisionado em Ciências foi solicitada a escrita de cartas, visando a experiência de escuta, partilha e encontros no processo formativo. Oito estudantes foram convidados a narrar acerca de suas trajetórias, caminhos e conexões pessoais, familiares ou profissionais que produziram marcas constitutivas na sua formação. As cartas não foram lidas. Dez estudantes, todos eles alunos matriculados na discilplina, compartilharam sobre a experiência de escrever uma carta no espaço de formação.

3. Resultados e Conclusões:

"Me projetar como professora me faz tentar enxergar em mim a admiração que eu tinha por você, e me valorizar a cada passo que eu dou".

 

A prática de resgatar essas narrativas, no interior de um curso de ciências naturais, foi um convite a pensar no dualismo: objetividades versus subjetividade, racionalidade versus irracionalidade/emocionalidade, mente versus matéria ou corpo na produção de ciência e formação dos professores. As cartas revelam subjetividades, emoções e corporeidades de seus remetentes, no caso, futuros professores de Biologia e adentram experiências por muitas vezes pouco compartilhadas pelo estudante anteriormente.  As experiências trazidas pelos alunos também nos permitiram refletir e problematizar os corpos que encontramos nas ciências e as histórias que eles nos contam: a influência de familiares na profissão docente, a vivência da maternidade enquanto estudante de graduação, o corpo da mulher enquanto professora. O que o enquadramento acadêmico exige que vejamos quando falamos de ciência? Essa ciência é plural? Permitir expandir os horizontes para as subjetividades do mundo científico é então uma oportunidade de que a pluralidade da ciência seja vista e ouvida.


Palavras-chave


Cartas; Formação Professores Ciências - Subjetividades

Referências


BENJAMIN, Walter. Experiência e Pobreza. In: Magia e Técnica, Arte e Política. Traduzido por Paulo Sérgio Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1987.

FOUCAULT, Michel. A escrita de si. In: O que é um autor? Lisboa: Passagens. 1992. pp.129-160.

NÓVOA, António. Cartas a um jovem investigador em educação. Conferência de abertura do XII Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação (Vila Real, 11 de setembro de 2014). Acesso em: 21 de setembro de 2020. Disponível em: http://pages.ie.uminho.pt/inved/index.php/ie/article/view/83/82

SILVA, Kaline Cavalheiro da. Autobiografia X escrita de si = autoescrita. Revista Letras Raras, [S.L.], v. 7, n. 1, p. 8-21, 29 abr. 2018. Editora da Universidade Federal de Campina Grande. http://dx.doi.org/10.35572/rlr.v7i1.985.