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Inventário da mastofauna de médio e grande porte presente em fragmentos de cerrado e floresta estacional semidecídua no município de Pirassununga-SP
Vlamir José Rocha, Lucas Ribeiro Correa

Última alteração: 2021-03-18

Resumo


O desmatamento da vegetação nativa do estado de São Paulo ao longo dos séculos para dar espaço as atividades agrícolas, levou a fragmentação intensa dos biomas Cerrado e da Mata Atlântica¹. Atualmente estes dois biomas são considerados “hotspots” mundiais e prioridade para a conservação devido a sua alta biodiversidade e grau de ameaça. Neste sentido, mamíferos é um dos grupos de grande importância como bioindicadores para a conservação de ecossistemas, pois desempenham papéis fundamentais na regulação e estruturação das florestas, atuando em diferentes serviços ecossistêmicos e nas interações ecológicas².

Portanto, a realização de inventários da mastofauna, pode fornecer informações básicas que subsidiam justificativas para a conservação dessas áreas. Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho foi inventariar a abundância e diversidade de mamíferos de médio e grande porte, com o uso de armadilhas fotográficas nos fragmentos de Cerrado e Floresta Estacional Semidecídua da Fazenda Fays pertencente à Aeronáutica de Pirassununga-SP.

A fazenda possuí 6.500 hectares, sendo 3.500 hectares ocupados por atividades agropecuárias e produção agroindustrial e cerca de 2.100 hectares compreendem áreas fragmentadas de floresta estacional semidecidual (FES), formações de Cerrado e áreas de transição³.

Para o levantamento, fizemos campanhas mensais com duração de quatro dias entre os meses de dezembro/2019 a março/2020, e posteriormente, maio e junho/2020. Utilizamos dez armadilhas fotográficas – cinco instaladas nas áreas de Cerrado e cinco na FES. As câmeras foram programadas para filmarem sequências de vídeo com duração de 60 segundos com intervalos de um a cinco segundos. Em função da pandemia do COVID-19 as amostragens foram interrompidas antes do previsto no cronograma.

Com os registros obtidos, calculamos o índice de diversidade de Shannon-Wiener para a área de cerrado e mata atlântica, uma vez que ele avalia a variedade de espécies encontrada em cada área4. Os valores encontrados pelo índice de diversidade foram submetidos ao teste t de student, a fim de comparar a diversidade das duas fitofisionomias. Ambos testes foram realizados através do pacote Vegan do programa © R.

Em um total de 23 dias de amostragem e 90 noites/câmera por área foi possível registrar 11 espécies de mamíferos de médio e grande porte distribuídos em oito famílias e sete ordens (tabela 1). Quase todas as espécies registradas ocorreram na área de Cerrado, com exceção de Didelphis aurita, que só foi registrado na FES. Já Dasypus novemcinctus, Hydrochoerus hydrochaeris, Leopardus guttulus e Mazama gouazoubira foram registrados apenas nas áreas de Cerrado e cerradão.

O índice de diversidade de Shannon total das áreas amostradas foi de h=0.8030795. Já separadamente, para as duas áreas, o cerrado apresentou maior diversidade de espécies h=0.8678168 quando comparado com a FES h=0.771181, todavia não foi estatisticamente significante esta diferença (t= -1.6129 e p=0.1146).

Concluímos que as áreas preservadas da fazenda Fays são importantes para manter espécies de mamíferos de médio e grande porte, inclusive as ameaçadas de extinção e recomendamos a realização de mais trabalhos na área, a fim de continuar as amostragens das comunidades animais e vegetais e avaliar os impactos das atividades antrópicas sobre a fauna local.


Palavras-chave


mamíferos silvestres

Referências


¹FAPESP. Olhar Amplo Sobre a Biodiversidade. Minion e Bell Gothic. Ed. Litokromia. p.46. 2006.

²BROWN, J. H. Why are there so many species in the tropics?. Journal of Biogeography, v. 41, n. 1, p. 8–22, 1 jan. 2014.

³Fernandes, E. M. S. Caracterização do componente florestal na Guarnição da Aeronáutica de Pirassununga. 2019. 35 f. TCC (Graduação) - Curso de Bacharelado em Agroecologia, Universidade Federal de São Carlos, Araras, 2019.

4LUDWIG, J. A.; REYNOLDS, J. F. Statistical ecology: A primer on methods and computing. New York: John Wiley, p. 337, 1988.